O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, voltou a defender
o investimento do banco na construção de navios. Em entrevista publicada neste
domingo (28) no jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que as críticas ao plano,
anunciado nesta semana, vêm de um “neoliberalismo anacrônico”, em descompasso
com mudanças na economia global.
“Temos um cenário desafiador e totalmente novo, porque a
produção de motores com energia renovável é uma pauta nova. Precisamos ter a
ambição de disputar o mercado, e vai ser fundamental ter uma frota com
combustível renovável”, disse à Coluna do Estadão.
Na última quarta (24), Mercadante reuniu a imprensa no Rio
de Janeiro para anunciar que, neste ano, o BNDES desembolsará R$ 2 bilhões do
Fundo da Marinha Mercante para investir em estaleiros. Foi criticado por economistas,
que lembraram que, nos primeiros mandatos de Lula, o governo fracassou na tentativa
de reativar a indústria naval – empresas quebraram e dinheiro público foi drenado
em esquemas de corrupção, descobertos pela Lava Jato.
O ministro agora argumenta que Organização Marítima
Internacional, vinculada à ONU, estabeleceu que, até 2030, 40% da frota
marítima mundial terá de usar combustível renovável, e que poderá multar navios
que ainda usam combustível fóssil. Isso, segundo ele, é uma oportunidade para o
Brasil. Em seus cálculos, se embarcações brasileiras forem sobretaxadas, a soja
nacional poderia ficar de 15% a 30% mais cara para exportação.
“Há uma disputa na reorganização das cadeias de valores.
Precisamos ter a ambição de disputá-la. Como temos matriz energética limpa e
temos uma grande liderança em etanol, biocombustíveis, o Brasil pode sair na
frente”, disse ao Estadão.
Ele garantiu que não haverá aportes do Tesouro para
financiar a indústria naval e que os empréstimos terão spread (diferença
entre os juros cobrados e a taxa de captação) reduzido, diminuindo, assim, o lucro
do BNDES nas operações. Gerido pelo BNDES, o Fundo da Marinha Mercante é formado
com recursos de uma taxa federal cobrada sobre o frete marítimo.
Os investimentos na indústria naval fazem parte de um plano industrial que prevê investimentos de R$ 300 bilhões até 2026 – a maior parte, de R$ 250 bi, sairão do BNDES.