Economia

Haddad e deputados da oposição batem boca e ministro diz que Bolsonaro deu calote em estados

Haddad e deputados da oposição batem boca e ministro diz que Bolsonaro deu calote em estados
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O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e os deputados federais oposicionistas Filipe Barros (PL-PR), Abílio Brunini (PL-MT) e Kim Kataguiri (União-SP) bateram boca durante uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara nesta quarta (22) por causa no rombo das contas públicas que chegaram, em fevereiro, a um déficit de R$ 58,4 bilhões.

A discussão começou quando Barros comparou o desempenho do mês ao do mesmo período de 2022 durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mostrando uma trajetória de queda desde fevereiro de 2020, quando foi registrado um déficit de R$ 33,2 bilhões. Ele ilustrou a fala com um gráfico que mostrou que o mesmo mês do primeiro ano do terceiro governo de Lula já mostrou um aumento no rombo.

O deputado afirmou que o governo vive uma “pandemia
econômica” e que os números oficiais do próprio Ministério da Fazenda são
piores do que os apurados durante a pandemia da Covid-19. Segundo Filipe
Barros, o governo Lula quer “aumentar imposto” para usar como remédio contra o
rombo das contas públicas.

“O governo só quer saber de aumentar imposto, temos aqui 22 medidas do governo ao longo desse um ano e meio praticamente”, disse elencando algumas delas como reoneração da gasolina, imposto sobre exportação de petróleo, tributação de apostas esportivas, aumento de imposto sobre armas de fogo, tributação sobre fundos exclusivos e offshores – aprovada pelos próprios deputados – entre outras (veja a sessão na íntegra).

Filipe Barros ainda disparou contra Haddad
afirmando que não há uma política de desenvolvimento e investimento no país, e
que há um “favorecimento dos amigos do rei” como sempre ocorreu em governos do
PT, afirmando que os bancos privados foram os principais financiadores da
campanha de Lula e que estão sendo beneficiados para registrarem altos lucros.

As falas de Barros fizeram Haddad subir o tom e disparar que o deputado usava de “fake news” para atacar o governo, afirmando que o rombo nas contas públicas registrados no ano passado e nos primeiros meses deste ano é fruto dos calotes que Bolsonaro teria dado ao não pagar precatórios e em governadores – tanto que Romeu Zema (Novo-MG) teria pedido a ele ajuda com a dívida do estado.

Haddad reconheceu a veracidade nos números
apresentados por Barros, mas afirmou que o orçamento do ano passado com déficit
foi elaborado ainda durante o último ano de Bolsonaro, e que o governo Lula só
pode ser efetivamente cobrado a partir deste ano. De acordo com ele, o calote
total de várias medidas de Bolsonaro somou mais de R$ 130 bilhões.

“Eu recomendaria que o senhor se detivesse nos
comunicados que a Fazenda faz. Quando a gente paga um calote do governo
anterior, o senhor coloca isso na conta do presidente Lula que nunca deu um
calote. Só dois presidentes deram um calote depois da redemocratização: o
[Fernando] Collor e o Bolsonaro. […] Aí vem um presidente e paga o calote, [e
dizem] ah, olha o déficit que o presidente Lula fez”, disse.

“Esse déficit não é nosso, o filho é teu, tem
que assumir, tem paternidade isso aqui. Faz um exame de DNA que você vai saber
quem é que deu o calote”, disparou Haddad contra Barros.

Fernando Haddad ainda citou as leis
complementares 192 e 194 que tornaram itens como combustíveis, energia
elétrica, comunicação e transportes coletivos como essenciais e indispensáveis,
reduzindo a alíquota do ICMS e provocando um rombo de R$ 100 bilhões nos
orçamentos dos estados segundo o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda,
Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz).

O ministro afirma que as duas leis “deram um
calote nos governadores” fazendo “caridade com o chapéu alheio”. “O Zema, que é
um apoiador, em março do ano passado estava na minha sala pedindo pra pagar o
calote que o Bolsonaro deu nele. Eu falei ‘por que o senhor não cobrou do
Bolsonaro ano passado?’”, completou o ministro citando também Tarcísio de
Freitas (Republicanos-SP), que teria ficado um ano sem pagar a dívida do
estado, e Cláudio Castro (PL-RJ).

Haddad ainda disparou contra o deputado sobre a fila do INSS represada durante a pandemia, o preço da gasolina que levou a uma inflação de 8,25 % em 2022, entre outros.

“Negacionista dos números”

Filipe Barros não retomou a discussão, mas Brunini chamou Haddad de “negacionista dos números” ao apresentar o mesmo gráfico sobre o déficit de fevereiro. Afirmou que é fato que os preços de alguns alimentos subiram – como do arroz após a tragédia climática do Rio Grande do Sul –, a greve de professores nas universidades públicas federais.

“Não faz o menor sentido, o preço do arroz e dos
produtos está difícil, a picanha não chegou no prato dos brasileiros, aumentou
o desemprego e os empréstimos, os bancos só ganhando no governo Lula, e tá com
greve na área da educação por causa dos cortes”, afirmou.

O ministro não respondeu diretamente ao ser
chamado de “negacionista dos números”, mas se disse surpreso por Barros defender
a isenção das apostas esportivas enquanto que os evangélicos são contra os
jogos de azar.

Ele ainda afirmou que o governo anterior quase
acabou com a cultura no Brasil durante a pandemia – que foi garantida com a
aprovação de duas leis pelo Congresso –, disparou que foi passado pano e se
estimulou o contrabando, e rebateu uma fala de Kataguiri sobre a tributação do
ICMS sobre compras online do exterior até US$ 50, dizendo que é um imposto dos
estados e não da União.

“O senhor está querendo botar na conta do governo
federal um imposto estadual, na minha opinião uma decisão correta que os
governadores tomaram. O senhor vai criticar publicamente os governadores que o
senhor apóia? Não, né. Pega o microfone e fala mal do Tarcísio”, concluiu o
ministro batendo boca com Kim.

Ele ainda negou ser “negacionista” como foi
chamado, pontuou que foi a favor da vacina, que ouve a ciência e que a “Terra é
redonda, que vocês negam” e que “vocês negam que deram calote em precatórios,
em governador”.

Kim rebateu dizendo que Haddad desviou do assunto, sendo cobrado pelo ministro se negava o calote aos governadores, e respondendo que “que houve contingenciamento [de recursos] e que pode ser liberado até o final do ano. Pronto, tá respondido? Aguarde. Se chegar no fim do ano contingenciado, o senhor reclama. Se não chegar, pede desculpas, é assim que funciona a vida democrática”.

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