Ventosa inspirada em tentáculos pode substituir agulha de remédios

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Esqueça as tradicionais agulhas usadas na hora de aplicar alguns remédios com moléculas relativamente grandes. É o que propõem os cientistas do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich), na Suíça, ao desenvolver um novo dispositivo inspirado nas ventosas dos tentáculos de polvo. Para ser medicado de forma indolor, o usuário precisa apenas pressionar o equipamento descartável na parte interna da bochecha.

“É um método totalmente novo de administração de medicamentos que pode poupar milhões de pessoas do medo e da dor associados às injeções”, afirma a cientista Nevena Paunović, uma das responsáveis pelo invento, em nota. Inclusive, indivíduos com tripanofobia — medo e fobia a injeções — poderiam se beneficiar e muito do novo dispositivo, já que apresentam alta resistência a tratamentos convencionais.

Por enquanto, o equipamento que simula uma ventosa de polvo ainda está em fase de testes — os estudos clínicos devem iniciar em breve. De forma antecipada, os cientistas já fundaram a startup Transire Bio, que deve levar a invenção ao mercado, quando for classificada como segura e eficaz em humanos.

Por que alguns remédios precisam ser aplicados com agulhas?

Antes de seguir, é preciso pontuar que alguns remédios só podem ser aplicados através de agulhas. Para ser mais preciso, essa via obrigatória de aplicação só vale para aqueles medicamentos compostos por moléculas relativamente grandes, como os peptídeos — o que inclui os anticorpos monoclonais.

Se forem ingeridas por via oral, através de comprimidos, é altamente provável que o sistema digestivo os quebre antes da absorção. Além disso, são demasiadamente grandes para serem absorvidas pelas paredes do intestino e, consequentemente, nunca entrarão na corrente sanguínea. Em outras palavras, não provocarão o efeito desejado.

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Buscar novas formas de absorção é tão complexo que nem a mucosa bucal poderia absorvê-los, sem o novo dispositivo baseado no mecanismo das ventosas de um polvo. Isso porque não basta colocá-lo, como um adesivo, na bochecha.

Como o dispositivo inspirado em tentáculos funciona?

Com aproximadamente 10 milímetros de diâmetro e 6 milímetros de altura, o dispositivo deve ser pressionado na parte interna da bochecha com dois dedos. Segundo os inventores, isso produz uma espécie de vácuo que estica o revestimento da mucosa, fazendo com que ela fique mais permeável ao medicamento contido na cavidade do dispositivo — é igual a uma cúpula de copo.

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Só que isso ainda não basta para que o remédio que carrega moléculas grandes chegue até a corrente sanguínea. Para garantir o processo de absorção, é preciso acrescentar um agente endógeno que “suaviza” temporariamente as barreiras das membranas celulares. Após alguns minutos com a ventosa na boca, o medicamento será absorvido.

Testes com novo aplicador de remédios em cães

Em estudo publicado na revista Science Translational Medicine, os pesquisadores testaram o dispositivo em cães — isso porque as mucosas dos cachorros e dos humanos são bastante semelhantes.

“Pudemos ver pelas amostras de sangue que a ventosa administrava medicamentos de forma eficiente na corrente sanguínea dos cães”, afirma Klein Cerrejon, outro pesquisador envolvido no projeto. Com esta nova forma de administrar medicamentos, nenhum cachorro apresentou lesões na boca.

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De forma preliminar, 40 pessoas testaram o dispositivo, sem nenhum medicamento no interior. Nesse pequeno teste, os voluntários forneceram um feedback positivo sobre a experiência, e a maioria disse preferir esta forma de aplicação do que as agulhas.

Agora, a equipe se prepara para a primeira rodada de testes clínicos, através da qual irão comparar a eficácia do novo método de entrega de medicamentos com a forma tradicional, feita com seringas e agulhas. Se tudo der certo, a técnica poderá ser usada também na aplicação de vacinas.

Remédio não combina com dor

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Indo além do dispositivo que simula uma ventosa de polvo, outras equipes de pesquisa buscam formas de contornar a necessidade de injeções e tornam essa experiência indolor. São os casos dos adesivos com microagulhas. Em outra frente, a realidade virtual é usada para tratar esse tipo de fobia.

Fonte: Science Translational Medicine e ETH Zurique    

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