Um artigo publicado na terça-feira (4) na revista científica AGU Advances descreve o estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos que descobriram que o impacto do asteroide Chicxulub, que matou os dinossauros há 66 milhões de anos, provocou um tsunami com ondas de até 1,6 km de altura, que se espalharam por metade do planeta.
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Eles encontraram evidências desse tsunami monumental ao analisar núcleos de mais de 100 locais em todo o mundo e criar modelos computacionais das ondas monstruosas após o impacto da rocha espacial na Península de Yucatán, no México.
“O tsunami foi forte o suficiente para perturbar e corroer sedimentos em bacias oceânicas do outro lado do mundo”, disse a autora principal do artigo, Molly Range, que conduziu o estudo para sua tese de mestrado no Departamento de Ciências da Terra e do Meio Ambiente da Universidade de Michigan, nos EUA.
Com base em descobertas anteriores, sua equipe modelou o impacto do asteroide de 14 km de diâmetro que estaria a 43.500 km/h, 35 vezes a velocidade do som, quando atingiu a Terra.
Após a colisão, muitas formas de vida desapareceram. Não só os dinossauros não-aviários foram extintos (apenas aves, que são consideradas dinossauros vivos, sobrevivem atualmente), como cerca de três quartos de todas as espécies de plantas e animais foram dizimados por incêndios avassaladores que os cozinharam vivos e pulverizaram rochas ricas em enxofre, provocando uma chuva ácida letal e o resfriamento global prolongado.
Para compreender o tsunami resultante, Molly e sua equipe estudaram a geologia da Terra, analisando com sucesso 120 “seções de fronteira”, sedimentos marinhos estabelecidos pouco antes e logo depois do evento de extinção em massa que marcou o fim do período Cretáceo. “Essas seções de fronteira coincidiram com as simulações do modelo de altura e trajeto das ondas”, disse a pesquisadora em entrevista ao site Live Science.
Segundo o estudo, a energia inicial do tsunami de impacto foi até 30 mil vezes maior do que a energia liberada pelo tsunami formado no Oceano Índico em dezembro de 2004, que matou mais de 230 mil pessoas.
Ainda conforme a simulação, assim que o asteroide atingiu a Terra, ele criou uma cratera de 100 km de largura e formou uma densa nuvem de poeira e fuligem na atmosfera. Apenas 2,5 minutos após o impacto, uma cortina de material ejetado empurrou um “muro” de água, gerando rapidamente uma onda de 4,5 km de altura, que desabou quando a ejeção despencou de volta na superfície.
Após cerca de 10 minutos, uma onda de 1,6 km de altura a cerca de 220 km do local do impacto varreu a bacia hidrográfica em todas as direções. Uma hora depois do impacto, o tsunami deixou o Golfo do México e correu para o Atlântico Norte. Após quatro horas, ele atravessou o Mar da América Central – uma passagem que separava as Américas do Norte e do Sul na época – em direção ao Pacífico.
Segundo o estudo, um dia após a colisão do asteroide, as ondas viajaram pela maior parte do Pacífico e do Atlântico, entrando no Oceano Índico de ambos os lados e tocando a maior parte da costa do globo 48 horas depois do impacto.
A água se movimentou tão rapidamente que provavelmente excedeu 600 m/h, uma velocidade capaz de corroer os sedimentos finos do fundo do mar.
Outras regiões escaparam do poder do tsunami, como o Atlântico Sul, o Pacífico Norte, o Oceano Índico e o que hoje é o mar Mediterrâneo, de acordo com a equipe. Suas simulações computacionais mostraram que as velocidades das ondas nessas áreas eram inferiores ao limiar de 640 m/h.
A equipe encontrou afloramentos – ou depósitos rochosos expostos – a partir do evento de impacto até nas ilhas do norte e do sul da Nova Zelândia, a uma distância de mais de 12 mil km da cratera Chicxulub.
Os cientistas pensavam que esses afloramentos eram da atividade tectônica local, mas devido à idade e localização na rota modelada do tsunami, os autores deste estudo a os incluíram nos efeitos das ondas cavalares provocadas pelo asteroide. “Sentimos que esses depósitos estão registrando os efeitos do tsunami de impacto, e esta é talvez a confirmação mais reveladora da importância global deste evento”, disse Molly.
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Embora os modelos não tenham avaliado as inundações costeiras, eles revelaram que as ondas de oceano aberto no Golfo do México teriam excedido 100 metros, atingindo alturas de mais de 10 metros quando o tsunami se aproximava das regiões costeiras do Atlântico Norte e partes da costa do Pacífico da América do Sul.
“Dependendo da geometria da costa e das ondas que avançavam, a maioria das regiões costeiras seria inundada e erodida até certo ponto”, disseram os autores no estudo, segundo os quais qualquer tsunami historicamente documentado “empalidece” em comparação a tal impacto global.
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Fonte: Olhar Digital