Fósseis vivos | Descubra animais que não mudaram em centenas de milhões de anos

Para ver o resultado da seleção natural das espécies e a evolução que ela gera, não é preciso ir muito longe. Basta olhar para si mesmo, para os seus bichinhos de estimação, para qualquer pássaro ou animal na rua. Há, no entanto, algumas criaturas com algo especial no pacote: são os chamados “fósseis vivos”, termo criado por Charles Darwin no livro A Origem das Espécies, de 1859. São os organismos que parecem sequer ter mudado em comparação com seus ancestrais fósseis.

Desde então, esse termo vem sendo utilizado para definir linhagens duradouras, animais pouco diversos e raros, e, principalmente, gêneros que tiveram seu DNA pouco mudado por milhões de anos. Algumas dessas criaturas mudaram, sim, afinal, as mutações aleatórias (deriva genética) ou seleção natural não poupam ninguém, mas suas mudanças não são perceptíveis ao olho humano. Como, então, sabemos que evoluíram?

Mudanças moleculares visíveis nos genes são a resposta — ou mudanças morfológicas na forma física, ou seja, na estrutura interna do corpo. O fundo do mar é uma região muito prolífica para fósseis vivos, já que é particularmente estável, mudando muito pouco mesmo sob mudanças climáticas e modificações terrestres feitas por humanos.

Peixes cartilaginosos, como tubarões e arraias, são de 2 a 4 vezes mais diversos evolucionariamente do que animais terrestres: ou seja, são bem diferentes de seus parentes mais próximos. Aqui, vamos falar de muitos animais marinhos que estão em estase morfológica, ou seja, seus corpos mudam de forma muito vagarosa, ou sequer mudam. Alguns têm até mesmo estase molecular.

Celacanto

O primeiro fóssil vivo da lista é o celacanto, peixe que vive nas costas da África e Indonésia e possuem barbatanas muito incomuns por todo o seu corpo, que podem se mover alternadamente — quase como se andasse pela água. Ele vem do período Devoniano, há 410 milhões de anos.

Acreditou-se, por muito tempo, que ele havia se extinguido junto aos dinossauros não-avianos, há 66 milhões de anos, já que sumiram dos registros fósseis na mesma época. Reencontrado surpreendentemente no oceano, em 1938, hoje se sabe que há 2 espécies vivas de celacanto no mundo, chamadas Latimeria, que não mudaram mais por pelo menos 100 milhões de anos.

Tamarutaca

As tamarutacas, ou lacraias-do-mar, são estomatópodes, crustáceos tropicais e subtropicais da costa de todo o mundo com um dos socos mais fortes do mundo animal, equivalentes à velocidade de um tiro de calibre .22 (720 km/h), capazes de quebrar conchas e carapaças com facilidade — e rendendo o apelido de lagosta-boxeadora.

São carnívoros e muitíssimo coloridos, fluorescendo durante o período de acasalamento e tendo olhos bastante complexos para poder aproveitar essa vista. Enquanto nós, humanos, temos 3 receptores de cor nos olhos, eles possuem 16, vendo 1 septilhão de cores contra nossos meros 1 milhão. Sua linhagem divergiu dos outros crustáceos malacostraca no período Carbonífero, há 340 milhões de anos. Há centenas de espécies, atualmente, na subordem Unipeltata, que surgiu há 190 milhões e pouco mudou desde então.

Caranguejo-ferradura

Surgindo no mundo pela primeira vez há 480 milhões de anos, no período Ordoviciano, essas criaturas não são caranguejos, mas também não mudaram desde o seu advento. Eles são, na verdade, Chelicerata (quelicerados), mais próximos evolutivamente das aranhas e escorpiões-marinhos.

Atualmente, há 4 espécies vivas, da família Limulidae, presentes na Ásia e América do Norte. Essas criaturas migram para águas rasas e fazem grandes “orgias” na areia, liberando dezenas de milhares de ovos na praia. Seu sangue é estranhamente azul, o que se dá pela grande quantidade de cobre presente. A indústria farmacêutica utiliza esse sangue para testes biomédicos.

Nautilus

Nautilus (ou náutilo) é como se chama um tipo de molusco cefalópode, parente das lulas e polvos, mas que habita uma concha dura e lisa e habita o mar aberto e recifes de coral do oceano Indo-Pacífico. Sua origem é do final do Triássico, mudando pouco por cerca de 200 milhões de anos: o próprio Darwin os chamou de fósseis vivos. Caçados pela beleza das conchas, seu comércio é regulado, numa tentativa de frear sua exploração.

Tubarão-duende

O tubarão-duende, Mitsukurina owstoni, é um peixe com um focinho longo e chato e mandíbulas salientes que se projetam de seu rosto. Raro, o animal vive em todos os oceanos e é o único representante da família Mitsukurinidae, o tubarão mais distintivo evolucionariamente que conhecemos, com 125 milhões de anos. Muito bizarra aos olhos humanos, a criatura foi descrita como “grotesca” quando encontrada pela primeira vez, em 1910. Como habita as profundezas, raramente vemos um espécime vivo.

Arraia-listrada

A Zanobatus schoenleinii, ou arraia-listrada, é um peixe cartilaginoso com uma distinção evolucionária de 188 milhões de anos, vivendo nas águas tropicais do Atlântico e Índico e se alimentando de pequenos invertebrados do solo oceânico. Integra a ordem dos Rhinopristiformes e é ovíparo, ou seja, dá à luz às suas crias, e não coloca ovos. É considerado vulnerável pela União Internacional de Conservação da Natureza.

Crinoides

A classe Crinoidea é originária do período Devoniano, de 359 a 419 milhões de anos, mas pode ser que exista desde o Ordiviciano, há mais de 445 milhões de anos. Também chamadas de lírios-do-mar, essas criaturas já tiveram uma simbiose com os corais no fundo do mar, que abrigavam caules e os permitiam se alimentar melhor ao chegar mais alto nas colunas d’água.

Há 273 milhões de anos, os crinoides aparentemente pararam de andar com os corais, por razões que desconhecemos. Em 2021, no entanto, a simbiose aquática foi vista novamente no Mar do Japão, intrigando a ciência e deixando uma grande dúvida em relação à longa “briga entre amigos” que rolou no fundo do mar.

Braquiópodes

Surgindo no período Cambriano, de 500 milhões de anos atrás, os braquiópodes são animais marinhos com conchas e longas hastes que vivem enterrados no solo marinho. Habitantes dos recifes, eles passam o tempo filtrando a água em seu entorno para se alimentar. Os braquiópodes atuais, como os Lingula, têm a mesma aparência de seus ancestrais cambrianos, sendo considerado o gênero animal mais antigo que ainda possui representantes vivos.

Tubarão-fantasma australiano

O Callorhinchus milii, também conhecido como tubarão-fantasma australiano ou tubarão-elefante, não é nenhum dos substantivos impostos a ele — não é nem um tubarão, mas sim um quimeriforme, um tipo de peixe cartilaginoso da subclasse Holocephali, que se separou da linhagem dos tubarões há 450 milhões de anos.

Seu nariz em formato de arado, com uma tromba característica, lhe rende alguns de seus nomes. O animal vive nas águas da Nova Zelândia e Austrália, e análises de seu genoma mostraram que ele evolui de forma incrivelmente lenta: é considerado, na verdade, o animal com o genoma que evolui mais vagarosamente de todos os vertebrados, com alterações quase imperceptíveis no DNA em centenas de milhões e anos.

Fonte: The Conversation

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