Como o carro popular pode voltar ao Brasil?

Os carros estão cada vez mais caros no Brasil e isso não é novidade. A pandemia da covid-19 mudou completamente o mercado, já que a produção foi diretamente afetada pela falta de componentes e mazelas econômicas decorrentes das medidas restritivas da época. Entramos em um mundo do qual dificilmente sairemos.

No entanto, o executivo da que hoje é a maior montadora do Brasil, a Stellantis, trouxe de volta um tema que há algum tempo estava adormecido: o do carro popular. Esse tipo de veículo, morto no Brasil há um bom tempo, pode estar na pauta das empresas e entidades que comandam o setor automotivo.

O executivo em questão é o italiano Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América Latina. Em declarações recentes, o executivo abordou a possibilidade de que o Brasil poderia ter novamente modelos populares, mas que uma série de fatores teriam que ocorrer.

A principal delas seria um incentivo governamental, ou seja, um movimento do governo para reduzir impostos, obrigatoriedades de construção e abertura de crédito para que esse carro popular saia do papel. Segundo Filosa, as montadoras se interessariam caso o cenário fosse esse.

Mas será que isso é mesmo possível? Vamos especular.

Carros pelados?

A equação para se formar o preço do carro também passa pelo que ele entrega. Para quem vivenciou os anos 1980 e 1990, os carros populares da época eram muito básicos, por vezes até sem o retrovisor do lado direito. Tudo custa na produção de um veículo e isso, claro, é repassado ao consumidor.

Atualmente, modelos de entrada no Brasil já saem de fábrica com um pacote razoável de equipamentos, muito em função de obrigatoriedades. Por exemplo: itens como freios ABS e os dois airbags frontais hoje são de série em todos os carros fabricados ou vendidos no Brasil. Mas vamos além.

Mesmo modelos de entrada dos hatches compactos saem de fábrica com ar-condicionado, direção elétrica e vidros elétricos. Dependendo do modelo, há também rádio com Bluetooth, vidros elétricos, controles de estabilidade e tração a até assistente de partida em rampa.

Segundo Filosa, o Governo precisaria diminuir algumas dessas obrigatoriedades, mas sem que as montadoras tornassem esses carros menos seguros. A conta, porém, pode não fechar. Em breve, recursos como luz de condução diurna e os já citados controles de estabilidade e tração também serão obrigatórios.

Como criar um carro popular sem esses equipamentos? A resposta pode estar na criação de uma categoria nova, com veículos até menores do que o Fiat Mobi ou o Renault Kwid, e que possam ser bons meios de transporte.

Muito imposto, muita ganância?

Se você circular pela internet, vai ver muitos comentários sobre impostos e sobre “ganância” das montadoras. A equação para se criar um preço passa pela vontade do governo em buscar arrecadação de algumas maneiras e das empresas em ter lucro. Não há um horizonte tão favorável para mudar esse cenário.

A nova administração federal tem claramente uma visão de arrecadação com aumento de impostos e taxações. Não vamos entrar no mérito disso e nem temos a pretensão de fazer uma análise macroeconômica, mas como pedir para que impostos sejam retirados se há um movimento justamente em outra direção?

Sobre as montadoras, a estratégia é muito clara: investir em modelos mais caros para ampliar a margem de lucro, já que carros mais baratos custam caro para serem produzidos hoje e não dão o mesmo retorno. Teria que haver um enorme aumento no volume. Essa, aliás, é a visão de Filosa.

“Nós não somos filantropos. Temos interesse econômico na escolha do etanol como motriz da eletrificação no Brasil, mas também enxergamos as vantagens para todo o mercado. No caso dos carros populares, há mais ramificações que precisam ser vistas. Todos têm que conversar”, disse o executivo, em coletiva recente em São Paulo.

O mercado entende que a Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores) pode liderar esse movimento, já que representa as concessionárias e distribuidores, um dos maiores interessados em mais volume de vendas. Pelo lado das montadoras, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) terá de coordenar as empresas e convencê-las de que o melhor caminho é o de lançar modelos mais baratos.

Não tem como fugir. Sem uma diminuição significativa dos impostos e uma readequação da margem de lucro, esse carro popular pode nem ir para o papel. Vale lembrar que o preço de um carro 0KM no Brasil tem perto de 50% de imposto, segundo a Receita Federal.

O que seria o novo carro popular?

Imaginando que tudo convergisse para a criação de um carro popular, como ele seria? Se a ideia é ter um certo nível de conforto, economia de combustível e segurança, ele teria que, necessariamente, ser 1.0 e com porte semelhante aos subcompatos de hoje: Mobi e Kwid. Mas e se a conta não fechar?

Talvez a solução seja de criar carros ainda menores, com porte parecido com do Smart For Two, só que com bem menos requinte e tecnologia do que o modelo do grupo Mercedes-Benz possui.

Seja como for, esse assunto ainda vai muito longe e temos que tomar cuidado com as emoções. Não existe almoço grátis e a criação de modelos realmente populares depende muito mais de fatores macroeconômicos e de cadeia de produção do que somente de canetadas.

Nos resta esperar.

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