Cientistas creem que o supervulcão Toba, localizado na Etiópia, tenha sofrido erupção que foi a maior de nossa existência. Ela mudou o clima da Terra por um período, inclusive.
Agora, antropólogos acreditam que Toba pode ter sido preponderante para um dos grandes mistérios de nossa evolução: a ida dos humanos para outras terras além da África. A teoria, publicada na Nature, pode até derrubar uma suposição central sobre como ocorreram as migrações na África.
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Origens da humanidade
- Pensa-se que o gênero Homo tenha saído da África há cerca de um milhão de anos já como Homo erectus, ou até bem antes disso;
- Não se sabe se isso se deu por conta da mudança das condições, ou à concorrência dos familiares próximos já estabelecidos, mas entende-se que o H. Sapiens foi para o oeste da Ásia e para a Europa várias vezes, mas não conseguiu permanecer;
- E aí vem a pergunta: por que uma migração subsequente nos levou rapidamente a alcançar todas as partes da Eurásia e, até mesmo, da Austrália, seguida muito mais tarde pelas Américas e pelas ilhas do Pacífico?
O IFLScience trouxe que uma grande equipe de cientistas pode ter encontrado a razão: uma possível erupção a milhares de quilômetros da população mais próxima do H. Sapiens, onde hoje encontra-se a Indonésia.
Apesar de isso ser uma teoria, a erupção do supervulcão Toba foi enorme, disso não há dúvidas. Afinal, foram liberados, pelo menos, dois mil km² de material.
Além disso, a hipótese de que o Toba causou mudanças climáticas se mostra real, pois, se a erupção inferior do vulcão Tambora produziu “um ano sem verão” dada a poeira e cinzas que bloquearam o Sol, o vulcão etiópio causou um arrefecimento de vários anos.
A quantidade em graus arrefecida ainda é discutida, mas estima-se que houve queda de 5 °C, levando, brevemente, o planeta a era glacial. Àquela altura, as reservas de alimentos dos humanos foram escassas, quase inexistentes, mesmo com o clima voltando ao normal em poucos anos.
Com estes dados, surgiu a teoria da catástrofe de Toba, que propõe que as condições pró-erupção reduziram a população humana para menos de dez mil seres, criando gargalo genético.
Contudo, essa ideia é muito debatida pelos cientistas, havendo vários argumentos que apontam efeitos climáticos menores e que o momento definido como momento do gargalo está errado.
Para o professor Curtis Marean, da Universidade do Estado do Arizona (EUA), os dois mistérios podem estar ligados. Ele se baseia em escavações no corno de África, especialmente no Shinfa-Metema 1, noroeste da Etiópia.
Marean e seus colegas acharam pequenos fragmentos de vidro vulcânico, conhecidos como criptotefra, em locais onde humanos viviam, e a ocupação de tais locais continuou após a camada em que as partículas são encontradas ter sido depositada.
Este estudo confirma os resultados do Pinnacle Point na África do Sul – a erupção do Toba pode ter mudado o ambiente em África, mas as pessoas adaptaram-se e sobreviveram às mudanças ambientais causadas pela erupção.
Professor Curtis Marean, da Universidade do Estado do Arizona (EUA), em comunicado
Marean e seus demais colegas entendem que o Shinfa-Metema 1 poderia ter implicações ainda mais profundas. Originalmente, pensa-se que a expansão humana (e de grandes mamíferos) para fora da África se deu por “corredores verdes” durante períodos úmidos, que transformaram regiões costumeiramente proibidas, como o deserto do Sinai, em erva.
Todavia, o Shinfa-Metema 1, localizado às margens de um afluente do rio Nilo, conta outra história. Quase 16 mil pedaços de pedra lascada, boa parte de tamanho pequeno, foram encontrados em pequeno pedaço, o que indica presença humana de longo prazo.
A datação sugere que foi ocupada quando a região ainda estava seca. Mesmo quando não havia fluência do rio, seu leito se tornou uma série de poças d’água, segundo os pesquisadores, e os humanos sobreviveram caçando animais que iam até essas poças beber água.
Naquela época, o consumo de peixe aumentou, muito possivelmente por ser mais fácil de capturá-los conforme o nível da água caía.
O vulcão Toba pode ter produzido uma estação seca extrema no nordeste da África. Ferramentas de pedra triangulares encontradas no Shinfa-Metema 1 são consideradas a evidência mais antiga de tiro com arco no mundo.
À medida que as pessoas esgotavam os alimentos dentro e ao redor de determinado poço durante a estação seca, elas, provavelmente, foram forçadas a se mudar para novos poços. Os rios sazonais funcionavam assim como ‘bombas’ que desviavam as populações ao longo dos canais, de um poço para outro, potencialmente conduzindo à mais recente dispersão para fora de África.
John Kappelman, um dos pesquisadores do estudo
Ou seja, em vez de um “corredor verde”, os humanos podem ter migrado para o limite da África ao longo de “autoestradas azuis” e, eventualmente, encontrado pontos para atravessar.
Este cenário torna provável que a população em dispersão seja reduzida em tamanho e, talvez, esteja ligada à baixa diversidade genética dos humanos modernos que partiram da África.
Autores do estudo
O grupo duvida que os que deixaram suas marcas no Shinfa-Metema 1 tenham feito a grande migração, ou mesmo seus ancestrais. Contudo, pensam que as competências desenvolvidas por essa população teriam sido comuns entre os sobreviventes em outras partes africanas, incluindo perto de potenciais pontos de passagem para a Ásia.
Fonte: Olhar Digital