O asteroide Itokawa contém um mineral improvável, que pode guardar pistas sobre a origem da água da Terra. Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, encontraram cloreto de sódio — nosso conhecido sal de cozinha — nas amostras do asteroide. E por que isso chamou a atenção deles? Bom, os cristais de sal só poderiam ter se formado na presença de água líquida.
Este asteroide parece ter sido parte de um corpo muito maior, mas se rompeu e hoje tem estrutura formada por detritos e poeira. Segundo os autores, as amostras dele representam rochas espaciais do tipo condritos comuns. Elas são derivadas de asteroides do tipo S (como o Itokawa), e formam mais de 80% dos meteoritos recuperados na Terra.
Tom Zega, um dos autores do estudo, explica que os condritos comuns são considerados uma fonte pouco comum para explicar de onde veio a água na Terra. Hoje, os cientistas acreditam que os planetas rochosos, incluindo o nosso, se formaram em uma nebulosa solar, o nome da grande nuvem de gás e poeira que cercou o Sol no passado.
Ali, as temperaturas eram altas demais para o vapor d’água se condensar. “Em outras palavras, a água da Terra deve ter vindo das partes externas da nebulosa solar, onde as temperaturas eram muito mais frias e permitiram que a água existisse, provavelmente na forma de gelo”, acrescentou Shaofan Che.
Então, cometas ou outros tipos de asteroides na parte mais externa da nebulosa devem ter migrado para o interior dela — e, talvez, eles tenham trazido água à Terra jovem. Estudos anteriores sugeriram que moléculas de água poderiam ficar presas nos minerais dos asteroides e, quem sabe, até sobreviveriam à viagem e colisão com nosso planeta.
Agora, eles podem ter encontrado uma nova pista da origem da água por aqui. Zega e Che analisaram detalhadamente uma pequena partícula de poeira do asteroide, parte das amostras obtidas em 2005 pela missão japonesa Hayabusa, e descobriram grãos de cloreto de sódio nela. “Os grãos são exatamente o que você veria se pegasse sal de cozinha e o colocasse sob um microscópio de elétrons”, descreveu Zega.
Com diferentes técnicas, Che descartou a possibilidade de que o sal estivesse ali devido à contaminação. “Nossa descoberta do cloreto de sódio nos diz que este grupo de asteroides pode comportar mais água do que pensávamos”, observou Zega. Na prática, a descoberta reforça a hipótese de que a água da Terra tenha vindo “de carona” com asteroides.
Os autores encontraram também plagioclásio em uma veia no asteroide, um mineral rico em sódio que estava enriquecido com o cloreto de sódio. “O fato de que vemos esta textura associada ao sódio e cloro é outra forte evidência de que isso aconteceu no asteroide conforme a água corria por este silicato com sódio”, finalizou Che.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.
Fonte: Nature; Via: University of Arizona