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Ruídos que atrasam o combate às alterações climáticas

O papel da mãe na governança familiar
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Na Semana do Meio Ambiente, é importante refletir por que ainda estamos tão atrasados em combater as alterações no clima. Esse, aliás, é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o de número 13, chamado Combate às Alterações Climáticas, que pode ser visto como um dos mais importantes para a geração atual e as futuras que viverão neste século.

Sempre me refiro a questões positivas, indicando caminhos a seguir para minorar as emissões e nos adaptarmos melhor aos impactos das mudanças climáticas. Mas é importante lembrar que há forças que atrasam o avanço do ODS 13, forças estas que não estão relacionadas somente à política, aos governos e às empresas. A fraqueza em combater o negacionismo, deter a polarização e a propagação de mentiras são forças negativas que podem predominar quando estamos distraídos. Precisamos ficar atentos para trazer o foco para o que realmente importa, que é deter o avanço das emissões e o aumento de temperatura no planeta. Temos que evitar e combater a acentuação de focos em polarizações político-partidárias e mentiras que só servem para diminuir o “poder” que temos de mudar essas ações com a democracia.

Por isso, o fortalecimento da democracia é fundamental para atingirmos o ODS 13. Ele passa por fazer prevalecer a vontade da maioria e não a ouvir o alto ruído de minorias que navegam no mar da ignorância e intolerância.

É importante que lembremos que o fortalecimento da democracia passa por uma maioria consciente dos caminhos a serem tomados. Uma maioria que não fique permanentemente distraída com seus próprios problemas pessoais e locais, mas pelo menos um pouco atenta ao que está acontecendo de fato no mundo.

Dou aqui o exemplo da preservação de florestas e biomas. Esse é um dos temas centrais em meio ambiente no Brasil e no mundo. Preservar não significa abandonar uma floresta à sua própria sorte, mas tomar medidas que evitem a sua deterioração. É preciso fazer com que o carbono sequestrado na biomassa das florestas continue preso ali pelo maior tempo possível. Devemos trabalhar para aumentar esse sequestro, plantando florestas novas, regenerando florestas em deterioração e também garantindo a qualidade das que agora existem. Para preservar, não basta cercar a floresta e não deixar ninguém entrar. É preciso promover o manejo sustentável, que significa evitar invasões, não deixar ocorrer ações de degradação e produzir serviços ambientais que beneficiem a sociedade. Mais além, é preciso informar à maioria sobre a importância que as florestas têm para a manutenção de nosso clima. É preciso demonstrar que, sem a biodiversidade (o conjunto de todos os seres vivos em uma floresta), não há equilíbrio no clima e na ausência desse equilíbrio, o caminho é a deterioração e a perda dos serviços ambientais. É preciso informar à maioria que essa deterioração é tão lenta que engana a nossa percepção enquanto ela ocorre ao longo de décadas. Aí, quando se passa de um certo ponto (o ponto de não retorno), o esforço pode ser tão grande e tão difícil que não há mais o que fazer. É preciso informar que todos os biomas contam, desde a enorme Amazônia até o menor fragmento de floresta urbana.

Se a maioria da sociedade não se manifestar em prol da manutenção das florestas, numa união em torno de projetos de preservação que ao mesmo tempo nos permitam entender o funcionamento, ensinar os jovens e conscientizar a sociedade de sua importância, pereceremos e sofreremos, como aliás já estamos sofrendo, as consequências nefastas das mudanças climáticas.

A responsabilidade, portanto, não é só dos governos e das empresas; ela é de cada um de nós, já que somos uma democracia, que é um sistema em que todos participam das decisões.

Quando a sociedade se mobiliza em direção a focos marginais, sem importância, e gasta energia em discussões efêmeras em torno de questões sem qualquer base intelectual e científica, o atraso é inevitável. Quando a maioria silencia, perdemos um tempo precioso que poderíamos estar usando para preservar, pesquisar e ensinar sobre a importância das florestas.

A USP, com seus colegiados e estrutura de poder solidamente calcados na democracia, deve ser um exemplo para a sociedade. Temos a obrigação moral e ética de demonstrar como se pode avançar mais e melhor para que o ODS 13 seja atingido em sua plenitude.

(*) Marcos Buckeridge é diretor do Instituto de Biociências da USP.

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