A Organização Nacional de Transplantes de Madri usou as redes sociais, na terça-feira (11), para celebrar a realização da primeira cirurgia de transplante multivisceral (de vários órgãos da região abdominal) em ‘assistolia’ a partir de um doador falecido. A paciente que recebeu os órgãos, Emma, tem apenas 13 meses e sofria com insuficiência intestinal desde os primeiros dias de vida.
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O procedimento foi feito no Hospital Público Universitário La Paz. Segundo informações do Estadão, o uso de assistolia no procedimento promoveu a oxigenação de tecidos e órgãos fora do corpo humano: em outras palavras, os médicos conseguiram manter os órgãos do doador viáveis mesmo após a morte ter sido decretada. A inovação médica é resultado de três anos de investigação a partir de um projeto de pesquisa lançado pelo Grupo de Malformações Congênitas e Transplantes do Instituto de Pesquisa em Saúde do Hospital de La Paz. Emma já recebeu alta e passa bem.
Segundo as autoridades de saúde de Madri, na Espanha, a técnica utilizada “possibilita o uso de órgãos sólidos que de outra forma seriam perdidos”. Esse foi o primeiro caso de transplante de intestino e outros órgãos vindo de doação por “assistolia”.
“A doação em assistolia vem se tornando uma fonte cada vez mais importante, uma vez que em adultos já representam um terço das doações [na Espanha]”, afirmou o Departamento de Saúde de Madri, em nota à imprensa. A técnica foi utilizada em adultos, em 2014, e também em crianças mais velhas que Emma, em 2021.
Transplante em assistolia
Segundo o Dr. André Ibrahim David, coordenador do Programa de Transplante de Fígado da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo), em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, o método utilizado em Emma, na verdade, é pouco realizado em alguns lugares devido a complexidade da assistolia – vale explicar que, a ‘assistolia’ não é uma técnica nova e o termo significa a ausência de atividade elétrica ventricular (batimentos).
“A assistolia, que é a parada do coração, leva a uma pior qualidade dos enxertos dos órgãos que você vai usar. Mas, se você for rápido e fizer um processo ágil de troca do sangue pela solução de preservação de órgãos, você minimiza esse prejuízo”, explicou o médico, pontuando que, no caso do transplante multivisceral, há a necessidade de atenção à vários órgãos – estômago; duodeno; intestino delgado; pâncreas; e fígado.
O especialista destacou em quais ocasiões o método pode ser considerado, e ainda revelou que o Brasil é uma das regiões que não se arrisca na técnica. “Já é usado em muitos países desenvolvidos ou quando a família não quer fazer a doação com o coração ainda batendo, alguns preferem esperar o órgão parar [para doar]. Não é uma prática isenta de problemas e, além disso, é um procedimento mais caro. Aqui no Brasil, não fazemos, achamos muito complicada de implementar exatamente pelo alto custo e pelo prejuízo dos órgãos.”
Transplante de intestino no Brasil
Segundo informações do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), o transplante de intestino e o multivisceral são procedimentos complexos, mas que têm crescido devido à demanda de uma parcela de pacientes com falência intestinal.
Emma foi a primeira a receber o transplante multivisceral a partir da técnica de assistolia, mas, o primeiro caso de transplante multivisceral no Brasil (sem o uso da assistolia) aconteceu em 1 de junho de 2009 na Clínica São Vicente da Gávea, no Rio de Janeiro. A paciente tinha 56 anos e recebeu de um doador jovem o estômago, fígado, pâncreas e intestino delgado, todos em bloco, mas faleceu no pós-operatório por choque circulatório refratário.
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Já o primeiro transplante apenas do intestino (órgão transplantado de forma isolada) ocorreu anos antes, em 2001. A cirurgia foi realizada pela equipe médica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na capital paulista. A receptora foi uma criança de 2 anos.
Ainda segundo a instituição, em nível mundial, o primeiro procedimento a ser realizado ocorreu em 1968 pelo professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Masayuki Okumura. Em 1990, foi realizado o primeiro caso de transplante de intestino com sucesso, e em 2000 o tipo de cirurgia foi reconhecida como opção terapêutica para a falência intestinal.
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Fonte: Olhar Digital