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Já é sabido por pelo menos 100 anos que seres humanos são muito bons em identificar pequenas quantidades de objetos, de quatro ou mais, no caso. Nossa habilidade de notar rapidamente quantidades grandes cai vertiginosamente quanto mais alto é o número, mas a ciência não fazia ideia da razão para que isso acontecesse. Tudo mudou com uma pesquisa recente, publicada no periódico científico Nature Human Behavior.
Ao analisar a atividade neuronal de 17 pacientes, cientistas cravaram que o cérebro usa mecanismos diferentes para avaliar quantidades diferentes — um é usado para quatro itens ou menos, e outro apenas de cinco ou mais. A importância do achado está em um melhor entendimento da natureza do pensamento, ou, em outras palavras, a arquitetura mental, a fundação do pensar humano.
Quanto menos, melhor
Ainda em 1871, o especialista em economia e lógica William Stanley Jevons analisou sua própria capacidade de contar e notou que o número cinco está além da habilidade humana de discernir perfeitamente — para algumas pessoas, pelo menos. Enquanto alguns pesquisadores acreditavam que o cérebro usava apenas um sistema para estimar quantidades, ficando menos preciso com o aumento numérico, outros colocavam a diferença em dois sistemas neuronais diversos.
Isso só pôde ser respondido agora, mais de cem anos depois, quando pesquisadores aproveitaram a oportunidade de gravar a atividade cerebral de pacientes enquanto estavam acordados. Foram 17 pacientes sendo tratados de convulsões no Hospital Universitário de Bonn, na Alemanha, que tinham microeletrodos inseridos no órgão em preparação para cirurgias.
Aos participantes, foram mostradas imagens com pontos de um a nove em uma tela, aparecendo por apenas meio segundo. Para a atividade, eles deveriam lembrar se viram um número par ou ímpar de pontos, e, como esperado, eles se saíram melhor quando havia quatro itens ou menos. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que neurônios especializados eram associados com números específicos de itens, com alguns acendendo quando vemos um objeto, outros quando vemos dois, e por aí vai.
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Nos exames, foi possível ver que os neurônios dos pacientes especializados em números de quatro ou menos respondiam muito especifica e seletivamente com o número “preferido”. Os neurônios de cinco a nove, no entanto, respondiam mais forte quando aparecia seu número preferido, mas ainda eram acesos quando números próximos deles apareciam.
Em outras palavras, quanto maior o número, menos seletivos ficavam os neurônios. Exemplo: neurônios específicos para o número três só foram ativados em resposta ao três, enquanto neurônios do número oito respondiam ao oito, mas também ao sete e ao nove. Isso resulta nos erros de percepção quando quantificamos muitos objetos de uma vez. Pode-se concluir que nosso cérebro tem dois sistemas numéricos diferentes, o que surpreendeu muitos cientistas — e revelou um pouco mais da base de funcionamento do órgão.
Fonte: Nature Human Behavior, Nature