Se você mora com um cachorro ou com um gato numa casa com quintal, muito provavelmente, já foi presenteado com um animal morto, como um passarinho, um rato ou ainda uma lagartixa. Embora nojento, levar a presa para o tutor é como se o animal entregasse, de fato, um presente, afirmam pesquisadores do comportamento animal.
Vale avisar que este tipo de comportamento — mesmo que você tenha considerado “fofo” depois da explicação —, nunca deve ser estimulado. A predação por parte de animais domésticos pode colocar a vida selvagem em risco e, além disso, o cachorro ou gato pode ser contaminado por patógenos estranhos, como vírus e bactérias potencialmente mortais.
Golfinhos também levam presas para “tutores”
O curioso é que o hábito de presentear os tutores com presas não é exclusivo de animais domésticos, como cachorros e gatos. Segundo pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, o comportamento pode ser observado em golfinhos na ilha Moreton.
Na ilha, os golfinhos da espécie Tursiops sp. são alimentados todas as noites pela equipe de funcionários de um resort local. Curiosamente, alguns animais já foram observados entregando peixes capturados na natureza ou cefalópodes (como lulas e polvos) para aquelas pessoas que os alimentam. As análises e hipótese sobre o comportamento foram publicadas na revista científica Anthrozoos.
Segundo os autores do estudo, a troca de presentes “é provavelmente uma manifestação da relação próxima” entre os golfinhos e os humanos que os alimentam. “Dar presentes se tornou uma parte estabelecida, mas pouco frequente, da cultura dos golfinhos” da ilha, acrescentam os pesquisadores.
“Em última análise, com esses golfinhos e com nossos próprios companheiros animais, podemos pensar nesse compartilhamento como uma expressão da relação particular entre o animal e o humano”, afirma Mia Cobb, cientista da Universidade de Melbourne, em artigo para o site The Conversation.
“Em alguns casos, onde o comportamento é regular (mesmo que pouco frequente), podemos descrevê-lo como parte da cultura dos animais”, acrescenta Cobb, que não participou do estudo com os golfinhos.
Outra hipótese: busca por um lugar seguro
No mundo animal, dificilmente existe uma única hipótese para o comportamento de determinada espécie — afinal, não conseguimos nos comunicar de forma direta e clara com eles, como fazemos com outros humanos. Isso significa que todas essas interpretações são construídas com base em suposições.
Neste ponto, Cobb traz outra hipótese. “Como pessoas, tendemos a gostar de nos colocar no meio de cada história — o termo para descrever essa mentalidade é o antropocentrismo. Só que, às vezes, não é sobre nós. Talvez, seu cachorro estivesse planejando ‘mastigar’ aquela criatura em sua cama, em um lugar seguro e conhecido, que coincidentemente é perto de onde você está”, pontua sobre as muitas leituras desse hábito.
Fonte: The Conversation e Anthrozoos