Pensar em partos virgens pode soar tão contraditório, não é mesmo? Se a natureza é tão sábia e rege todo o ecossistema como uma grande orquestra em perfeita harmonia, como existem casos de reprodução sem parceiro? Em tese, animais que vivem sozinhos ou isolados podem ter problemas para se reproduzir, já que o acasalamento entre os animais, em geral, envolve um ritual, um cortejo e um tempo para acontecer.
Entretanto, na reprodução assexuada esse processo acontece muito mais rápido e geram novos descendentes de modo muito mais rápido. Pode parecer estranho o modo assexuado de reprodução, mas é surpreendentemente comum e encontrado em uma variedade de organismos, incluindo plantas, insetos, peixes, répteis e pássaros.
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Partenogênese, ela é que permite partos virgens
A palavra vem do grego parthénos (“virgem”), e gênese que significa “criação”. A partenogênese é um fenômeno que viabiliza que alguns animais se reproduzam sem a necessidade de acasalar com espécimes machos. Para ocorrer, as fêmeas devem ser capazes de criar óvulos (oogênese) sem estimulação de espermatozoides ou acasalamento.
Os ovos produzidos pelas fêmeas precisam começar a se desenvolver por conta própria, formando um embrião em estágio inicial. Finalmente, os ovos devem chocar com sucesso.
A partenogênese pode ser uma última tentativa das fêmeas para conseguir transmitir sua genética adiante. Também pode permitir que a espécie colonize novas áreas e evite certas armadilhas, como as doenças sexualmente transmissíveis.
No entanto, a partenogênese também tem um custo. O DNA absorve mais mutações genéticas prejudiciais com a partenogênese do que com a reprodução sexual, na ausência de seleção natural.
Meus ovos, minhas regras
A partenogênese espontânea pode ser um traço hereditário. Isso significa que as fêmeas que experimentam a partenogênese têm mais probabilidade de ter filhas que podem fazer o mesmo. Saiba que a partenogênese espontânea é um traço hereditário que pode ocorrer em um grande número de espécies. Os partenógenos espontâneos geralmente se reproduzem sexualmente, mas podem ter ciclos ocasionais que produzem óvulos prontos para o desenvolvimento.
Esse tipo de reprodução também ocorre principalmente em animais que vivem em cativeiro, como tubarões e raias. O fenômeno já foi observado em tubarões-martelo, tubarões-zebra e tubarões-lisos.
Os tubarões são animais com fecundação interna, o que significa que o gameta masculino é depositado no interior do corpo da fêmea. Os tubarões machos têm estruturas chamadas claspers, que são responsáveis por transferir o espermatozoide para o trato reprodutivo da fêmea.
Nem sempre são partos virgens
A partenogênese pode ocorrer com indivíduos que possuem reprodução do tipo sexuada, mas que em condições específicas de ambiente ou de alteração química, conseguem se reproduzir sem a troca de gametas.
A descoberta levanta questões importantes sobre a preservação dos tubarões, por exemplo. Na natureza, estes animais sofrem pressão por pesca excessiva e muitas espécies estão sofrendo com a drástica redução de população.
Os pesquisadores ainda não descobriram a razão pela qual a partenogênese ocorre entre determinadas espécies de peixes. Porém, há indícios que podem indicar uma estratégia para contrabalançar baixos níveis populacionais.
Apesar de ser um fenômeno conhecido, o que chama a atenção são os casos de animais de espécies que possuíam o hábito do acasalamento e passaram a se reproduzir sozinhas. A partir de 2015, a Ciência descobriu espécies que mudaram de comportamento reprodutivo, como é o caso do bicho-pau, diversas espécies de cobras criadas em cativeiro, o peixe-serra e alguns tipos de lagartos.
Veja o exemplo das fêmeas da espécie australiana de bicho-pau. Elas acasalam se quiserem e quando quiserem. Também desenvolveram métodos para repelir machos para que possam se reproduzir sem interferência.
A revista Animal Behaviour divulgou um estudo em que indica que talvez não seja de fato uma escassez de machos que determina a partenogênese no bicho-pau, mas que o ato sexual pode ser difícil para as fêmeas. Por isso, algumas desenvolveram métodos de muita criatividade para fugir de machos cheios de libido.
O fenômeno tem sido cada vez mais observado nos últimos 20 anos.
A partenogênese pode ser de três tipos:
- Telítoca: em que fêmeas não fecundadas produzem somente fêmeas.
- Arrenótoca: em que os óvulos não fecundados originam somente machos, como ocorre com a produção de zangões por abelhas-rainhas.
- Deuterótoca: origina machos e fêmeas, como afídeos (pulgões).
Além da partenogênese, outros tipos de reprodução assexuada são a divisão binária, fragmentação, brotamento e propagação vegetativa.
Fonte: Olhar Digital