Analisando o tamanho e formato do nariz de diversos humanos e comparando essas características a dados genéticos, cientistas descobriram que os neandertais podem ter sido os responsáveis por passar narizes altos para a nossa espécie — uma adaptação corporal que ajuda a aquecer e umidificar o ar frio e seco dos climas mais gelados onde os extintos seres viviam.
Evidências genéticas mostram que, quando os Homo sapiens modernos saíram da África e se juntaram aos neandertais (Homo neanderthalensis), no norte da Eurásia, as espécies se miscigenaram, dando diversas características aos seus descendentes. Com isso, herdamos vantagens e desvantagens dos ancestrais neandertais, como uma resistência maior à covid, e, segundo a pesquisa publicada no periódico científico Communications Biology, um nariz maior e mais adaptado ao frio.
Narizes e DNAs latinoamericanos
A descoberta foi possível graças ao sangue — ou DNA — latino, já que a genética analisada pelos cientistas veio de mais de 6.000 voluntários do Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, com ascendências que iam da europeia mista à nativa dos Estados Unidos, africana e latinoamericana. As informações sobre os genes dos indivíduos foram comparadas com fotografias de seus rostos.
Foram analisadas, no geral, as distâncias entre os pontos diferentes em cada rosto para descobrir se essas características tinham alguma associação com alguns marcadores genéticos. É dessa maneira que os pesquisadores descobriram a ligação entre o tamanho do nariz e uma herança neandertal.
Foi possível identificar 33 novas regiões genômicas que correspondem a características faciais — em particular, a chamada ATF3, que, além de ter origem nos Homo neanderthalensis, definem a altura do nariz. Voluntários com ascendência nativo-americana, em especial, tinham material genético no gene diretamente relacionado ao tamanho do órgão.
Já se teorizava, há muito tempo, que o formato de nossos narizes fosse determinado pela seleção natural. Eles ajudam a regular a temperatura e umidade do ar respirado, então formatos diferentes podem ter sido mais adaptados a certos climas nos quais nossos ancestrais viveram.
Quando o Homo sapiens saiu da África e se aventurou em climas mais gelados, adaptações para isso podem ter nos ajudado a sobreviver melhor. Um nariz mais fino — característica auxiliada pela sua altura — consegue aquecer melhor o ar até que chegue aos pulmões.
Outros looks, outros genes
A mesma equipe de cientistas já havia pesquisado, em 2021, os genes que influenciam no formato dos lábios humanos. Chamado TBX15, o gene responsável pela característica foi herdado dos denisovanos, parentes próximos dos humanos modernos que viveram na Ásia, se miscigenaram conosco e acabaram extintos há cerca de 30.000 anos.
Analisando os dados deste estudo, os pesquisadores também descobriram que, assim como os nativo-americanos, os povos do leste asiático também têm chances maiores de apresentar o gene ATF3, responsável pelos narizes grandes.
Fonte: Nature Communications