O diretor Christopher Nolan queria que seu filme biográfico sobre Julius Robert Oppenheimer, conhecido como o pai da bomba atômica, exibisse nas telonas o efeito da explosão de uma bomba nuclear sem o uso de CGI. E ele conseguiu graças à sua equipe brilhante, a muitos experimentos e a um velho truque do cinema.
Nolan é conhecido por exigir rigor quase científico para obter realismo em algumas de suas cenas. Vimos o melhor exemplo disso em Interestelar, obra que incluiu uma simulação de um buraco negro supermassivo que seguiu com exatidão os modelos matemáticos e as orientações de cientistas.
Quando o diretor e roteirista revelou que não usaria CGI para a explosão nuclear em seu novo filme, alguns usuários na internet brincaram com a possibilidade de Nolan explodir uma bomba atômica real. Bem, de certa forma, isso é verdade. A equipe de produção usou mesmo algumas bombas, mas nada que pudesse representar riscos a qualquer ser vivo.
Como Nolan criou a bomba nuclear?
Para recriar o Teste Trinity — a primeira vez que uma arma nuclear foi detonada, em 1945 —, a equipe utilizou uma técnica clássica chamada perspectiva forçada, popularmente conhecida como truque de câmera. Ela consiste em fazer coisas pequenas parecerem grandes perto de outros objetos e vice-versa.
Essa técnica, embora muito antiga, ainda é usada nos dias de hoje quando os diretores não querem recorrer à computação gráfica. Como exemplo, pense no interior das casinhas dos hobbits, nos filmes da saga O Senhor dos Anéis. Ali, tudo foi construído em dois tamanhos diferentes: um pequeno, para Gandalf parecer grande, e outro grande, para os hobbits parecerem pequenos.
No caso da bomba de Oppenheimer, Nolan e sua equipe criaram uma explosão real em miniatura, com alguns elementos que simularam os efeitos do brilho ofuscante e da nuvem de cogumelo típica das bombas nucleares. Ao filmá-la bem de perto, criou-se uma ilusão ótica bem convincente para o público nos cinemas.
O que é CGI e por que Nolan não usou?
Também conhecida como efeitos visuais, CGI (Computer Graphic Imagery) é toda e qualquer técnica para produzir imagens por computador. São os famosos efeitos especiais que podem adicionar desde pequenos detalhes em uma cena até filmes completos, como nos casos das animações do estúdio Pixar, por exemplo.
Hoje, os grandes estúdios de computação gráfica conseguem produzir todo tipo de efeito visual, e certamente poderiam criar uma explosão atômica bastante realista. Mesmo assim, Nolan preferiu algo menos perfeito. É que, para ele, explosões reais são mais caóticas e confusas do que os computadores poderiam gerar.
Em uma entrevista à revista Empire, Nolan disse que “a coisa mais óbvia a fazer seria criar todas [as explosões] com computação gráfica, mas eu sabia que isso não alcançaria o tipo de natureza tátil, irregular e real do que eu queria”.
Ao The Hollywood Reporter, ele explicou: “a CGI é inerentemente bastante confortável de se olhar. É seguro, anódino. E o que eu disse a Andrew [Jackson, o supervisor de efeitos visuais do filme] em Oppenheimer foi ‘isso não pode ser seguro. Não deve ser confortável olhar para isso. Tem que ter mordida. Tem que ser bonito e ameaçador em igual medida’”.
Para isso, eles decidiram criar o incêndio com uma combinação de gasolina, propano e pó de alumínio, enquanto o magnésio foi usado para criar um flash ofuscante. “Nós realmente queríamos que todos falassem sobre aquele flash, aquele brilho. Então tentamos replicar isso o máximo que pudemos”, disse outro supervisor de efeitos especiais, Scott R. Fisher.
Antes de chegar a um resultado satisfatório, eles usaram vários experimentos, “alguns em escala gigante, usando explosivos e sinalizadores de magnésio, e grandes explosões de pólvora negra de gasolina”, disse Fisher, ao SyFy. “E alguns [experimentos] absolutamente minúsculos, usando interações de diferentes partículas, diferentes óleos, diferentes líquidos”.
Explosão nuclear vs explosão no cinema
Claro, nada produzido por Nolan e sua equipe se compara à bomba real usada no Teste Trinity pelo Projeto Manhattan, sob a direção de Oppenheimer. A explosão ocorrida em 1945 gerou energia equivalente a 24,8 quilotons de TNT e derreteu areia do deserto onde o teste ocorreu, transformando-a em um vidro verde radioativo.
Além disso, a explosão criou uma onda de choque sentida a 160 km de distância e uma nuvem em formato de cogumelo com 12,1 km de altura. Após a poeira abaixar, foi revelada uma cratera de 80 m de largura e 1,4 de profundidade.
Nolan não revelou a fórmula exata usada para sua explosão realista, mas parece que seu objetivo foi alcançado e você pode conferi-lo por conta própria nas telonas. Oppenheimer foi lançado nos cinemas no dia 21 de julho.
Fonte: The Hollywood Reporter, SYFY, Business Insider