Transmitida com exclusividade pela HBO e pelo streaming Max, Cidade de Deus: A Luta não Para faz um salto de 20 anos em relação ao filme de Fernando Meireles para mostrar um Rio de Janeiro mais atual, em 2004, mas ainda marcado pela violência. Enquanto no passado os moradores da comunidade carente tinham que lidar com traficantes, agora eles também precisam conviver com a ameaça da “polícia mineira”.
Na subtrama explorada pela série, esse tema é introduzido por Lígia (Eli Ferreira), uma jornalista que está investigando o crescimento do crime organizado que vai além do tráfico de drogas. Durante os episódios, vemos como figuras como Touro (Otavio Linhares) exploram suas conexões oficiais e a confiança da população para se tornarem tão ameaçadores quanto os criminosos que dizem combater.
Você sabia que toda essa história tem inspirações reais? A seguir, conheça a verdade por trás da polícia mineira e da milícia, que são temas centrais de Cidade de Deus: A Luta não Para.
O que é a polícia mineira apresentada em Cidade de Deus?
A polícia mineira vista na série é o embrião do que atualmente conhecemos como milícias. Esse é um termo usado para designar os grupos de servidores públicos, que podiam ou não ser policiais, que se aproveitam das brechas deixadas por agentes do Estado e faltas de serviços públicos para se apresentar como a solução de problemas. Apesar do nome, é importante ressaltar que a Polícia Mineira não tem conexão com o estados de Minas Gerais e suas forças.
O termo teria surgido a partir da prática de “mineirar”, marcada pela busca de negócios ilegais e ilícitos que permitiam obter lucros através da extorsão. Para muitas pessoas, a presença desses era inclusive vista como algo positivo, já que eles aceitavam fazer operações, matar e torturar criminosos de forma “alternativa” aos meios oficiais.
Segundo José Cláudio Souza, professor de ciências sociais da UFRJ, os policiais mineiros representam a “primeira linha de continuidade entre grupo de extermínio e milícia”. Ao G1, ele explicou que esses agentes muitas vezes são eram os responsáveis por manter em pé as estruturas de abusos que deveriam combater.
Conforme mostra Cidade de Deus: A Luta Não Para, muitos desses grupos surgiram com a promessa de proteger as comunidades da influência do tráfico. No entanto, os 40 anos de atividades que eles vêm desempenhando nas ruas do Rio de Janeiro mostram que as milícias são cada vez mais parecidas com o grupo rival — com quem inclusive costumam travar alianças pontuais.
Milicianos atuam em várias atividades econômicas no Rio de Janeiro
Segunda Joana Monteiro, professora da Fundação Getúlio Vargas, os antigos membros da chamada “polícia mineira” atualmente dominam vários tipos de atividades econômicas, incluindo o tráfico de drogas. Para ela, há inclusive uma troca cultural entre os milicianos e as antigas facções, que aprenderam juntos como desenvolver suas atividades ilegais.
“Uma vez também que eles têm um controle do território deles, também podem explorar a internet, o gás, cobrar taxas de extorsão, e a gente está vendo então esse processo aí de uma multiplicação de negócios”, explicou ela ao G1. “Uma aprendeu com a outra o que poderia ser feito para cada vez mais aumentar o lucro”.
Conforme mostra Cidade de Deus: A Luta não Para, quem mais sofre com as disputas violentas por controle territorial e extorsões são as populações dos locais afetados. Em nome do aumento de receitas, muitas pessoas têm sua vida ameaçada (ou encerrada) e precisam conviver com limitações relacionados aos locais pelos quais podem circular e aos relacionamentos pessoais que podem ter.
Cidade de Deus: A Luta não Para está disponível para streaming na Max, recebendo novos episódios aos domingos.