O Mundo Depois de Nós: detalhe conta história do filme e você não percebeu

O enredo é dividido em cinco partes e em vários momentos o espectador é surpreendido com enigmas e conflitos ligados ao apocalipse digital. Mas apesar das dúvidas, há um elemento específico do filme que conta muito sobre a história. O TechTudo conta, nas próximas linhas, mais sobre esse detalhe a partir de informações exclusivas da Netflix. Veja, a seguir.

🎬O Mundo Depois de Nós: veja explicação sobre o final do filme da Netflix
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As duas famílias tentam se conciliar no meio do fim do mundo — Foto: Divulgação/Netflix

A arte como retrato do caos

O Mundo Depois de Nós conta com um grande aliado para revelar detalhes sobre os sentimentos do personagens e do contexto onde eles estão inseridos: a arte. Do começo ao fim do filme, vemos como a pintura, o audiovisual e a música servem de apoio para o esclarecimento do espectador sobre o lado subjetivo do filme, mesmo que alguns desses detalhes tenham passado despercebidos.

O aspecto mais vibrante são as artes plásticas, que estão presentes desde o começo da trama. Em uma informação exclusiva enviada paa o TechTudo pela Netflix, a diretora de arte do filme, Anastasia White, explicou que a palavra central para esse campo do filme era “colapso”. Segundo ela, “o primeiro vislumbre do colapso que vemos no filme é a rachadura na parede do apartamento de Amanda (Roberts) e Clay (Hawke)“. A diretora se refere à cena onde a personagem de Julia Roberts acorda o marido Clay para avisar que a família irá viajar de férias.

As rachaduras na parede da casa dos Sandford demonstram o início do colapso, afirma a diretora de arte Anastacia White — Foto: Reprodução/Netflix. Editado por Jonathan Firmino
As rachaduras na parede da casa dos Sandford demonstram o início do colapso, afirma a diretora de arte Anastacia White — Foto: Reprodução/Netflix. Editado por Jonathan Firmino

Além disso, os quadros com pintura e fotografia estão espalhados em diversos momentos do enredo. E eles foram realizados por artistas não brancos, como Julie Mehretu, Torkwase Dyson, Barthélémy Toguo, Gary Simmons e Adam Pendleton. Todas as obras foram escolhidas pela curadora americana Racquel Chevremont, uma mulher negra. Vale lembrar que Rumaan Alam, escritor do livro original, é americano com ascendência bangladense e o diretor Sam Esmail possui ascendência egípcia. E na trama, essa escolha funciona como indicativos sutis de que a casa pertence a pessoas não-brancas.

White aponta que um dos problemas iniciais do filme, a desconfiança de Amanda com G.H. Scott (Ali), poderia ter sido solucionado se a personagem tivesse se atentado aos quadros da casa. Eles representam a presença da esposa de G.H., que é uma marchand (negociadores de obras de arte). Ainda que ela não apareça, seu gosto refinado por arte abstrata reafirma a veracidade do relato do marido.

A esposa de G.H. e mãe da jovem Ruth (esq.) é uma negociadora de obras de arte. Sua presença é sentida pela presença de pinturas e fotografias pela casa — Foto: Divulgação/Netflix
A esposa de G.H. e mãe da jovem Ruth (esq.) é uma negociadora de obras de arte. Sua presença é sentida pela presença de pinturas e fotografias pela casa — Foto: Divulgação/Netflix

Isso leva a outro aspecto artístico pouco notado pelos espectadores, que é a mudança de algumas das obras no decorrer do filme como forma de mostrar o colapso. É o caso das pinturas em preto e branco presentes na sala de estar. Inicialmente, pensamos se tratar de apenas um quadro, mas este vai mudando à medida que a situação dos personagens fica cada vez mais caótica.

De acordo com a Netflix, nesse ponto, foram utilizados três recortes de obras maiores do artista plástico Glenn Ligon, conhecido por retratar em seus trabalhos questões como solidão, raças, etnias, identidade e sexualidade. Anastacia White explicou que a decisão de utilizar quadros do artista levou em conta a expressão sutil do que acontecia em cada momento. A chegada dos Sandford na casa, a visita repentina dos Scott e o drama das duas famílias com o auge da catástrofe nos Estados Unidos.

A pintura da sala de estar da casa de G.H. muda em determinados momentos do filme — Foto: Reprodução/Netflix. Editado por Jonathan Firmino
A pintura da sala de estar da casa de G.H. muda em determinados momentos do filme — Foto: Reprodução/Netflix. Editado por Jonathan Firmino

Outra imagem que muda a cada cena é o papel de parede com uma fotografia gigante de mar, que fica no quarto principal usado por Amanda e Clay. Aqui é representado o “afogamento” dos personagens, mas também pode representar o humor da protagonista Amanda, pois o ambiente é usado apenas por ela e seu marido. Quando o casal chega à residência e a esposa visita o quarto, percebe-se que o mar está calmo e extremamente horizontal. A luz do sol entra no quarto e o deixa bastante iluminado.

O mar calmo e com poucas ondas reflete o humor de Amanda — Foto: Reprodução/Netflix
O mar calmo e com poucas ondas reflete o humor de Amanda — Foto: Reprodução/Netflix

Porém, Amanda fica chateada com a chegada repentina de G.H. e Ruth à residência. Na manhã seguinte, ela é acordada pela filha, que quer assistir à série Friends. Quando a câmera abre para abranger todo o espaço do quarto, vemos o ambiente coberto de sombras e a fotografia desta vez mostra um mar agitado, diminuindo o tamanho do céu na imagem.

O clima no quarto usado por Amanda e Clay muda após a chegada de G.H. e Ruth, os verdadeiros donos da casa — Foto: Reprodução/Netflix
O clima no quarto usado por Amanda e Clay muda após a chegada de G.H. e Ruth, os verdadeiros donos da casa — Foto: Reprodução/Netflix

Já nos momentos finais, Amanda descobre que seu filho Archie (Charlie Evans) está enfermo a ponto de perder os dentes. Quando a câmera foca em todo o quarto, já não vemos nada do céu no papel de parede, e só há apenas o mar revoltado e disforme, engolindo toda a linha do horizonte.

Momento em que Archie está perdendo os dentes, situação que causa pânico entre as duas famílias — Foto: Reprodução/Netflix
Momento em que Archie está perdendo os dentes, situação que causa pânico entre as duas famílias — Foto: Reprodução/Netflix

A arte como uma salvação no caos

Partindo para o campo da interpretação, outra coisa que pode ser entendida no decorrer do filme é como a arte contribuiu não apenas no entendimento de certos momentos de tensão dos personagens, mas também atua como consolação e até salvação em meio à realidade distópica. Para além das artes plásticas, o filme aborda a música como principal suporte dentro desse cenário.

Assim como na questão dos quadros e fotografia, os artistas musicais são, em sua maioria, negros (com exceção do duo The Rembrandts, que toca nos créditos finais). Estão na trilha sonora os cantores e grupos afro-americanos Joey Bada$$, Kool and The Gang, Blackstreet, TV On Radio, Lil Yatchy e Next. A música serve como pano de fundo em dois momentos de aproximação entre as duas famílias.

Archie não tira os olhos de Ruth quando a jovem chega para tomar banho na piscina. Tudo acontece ao som de "Winter", da banda TV On Radio — Foto: Reprodução//Netflix
Archie não tira os olhos de Ruth quando a jovem chega para tomar banho na piscina. Tudo acontece ao som de “Winter”, da banda TV On Radio — Foto: Reprodução//Netflix

Distante de casa, Archie não tira os olhos de Ruth vestida de biquini de piscina enquanto ele ouve “Winter”, da banda de rock alternativo TV On Radio, uma canção de amor com uma abordagem mais picante. Não à toa, o adolescente secretamente chega a tirar fotos dela. Por outro lado, Ruth sabe das intenções do jovem e quer se manter longe dele.

Outro momento é quando G.H. quer usar do jazz, um estilo musical mais refinado, para ficar mais próximo de Amanda, que inicialmente demonstrou um comportamento racista quando o viu pela primeira vez. O que o consultor de negócios não sabe é que a personagem é fã de artistas negros do rap e R&B, conforme mostrado em momentos anteriores do filme. Em um momento a sós, os dois dançam juntos a música “Too Close”, do trio de hip hop Next. Eles ficam “perto demais”, mas G.H. e Amanda se distanciam quanto a isso.

Amanda deixa seus preconceitos de lado e dança uma música de hip hop junto com G.H. — Foto: Reprodução/Netflix
Amanda deixa seus preconceitos de lado e dança uma música de hip hop junto com G.H. — Foto: Reprodução/Netflix

Mas o exemplo mais simples, e que tem grande poder no final do filme, é o fanatismo da personagem Rose (Farrah Mackenzie) pela série Friends. Inicialmente, tal gosto é extremamente ignorado pelos demais, talvez pelo fato da série já ter sido encerrada há anos. Ela maratona a produção em um tablet, mas quando o colapso acontece e todos ficam sem Internet, a menina não consegue assistir o último episódio.

Enfim, Rose finalmente consegue assistir ao capítulo, quando ela encontra um bunker mantido por uma família vizinha repleto de DVDs com filmes e séries. Porém, é importante lembrar que esse encontro acontece após dois momentos traumáticos. Quando está à procura da filha, Amanda salva Ruth de uma manada de cervos. Isso é emblemático, pois, anteriormente o sentimento mútuo entre as duas era de desavença. Agora, as duas ficaram unidas em um momento de dificuldade e dando as mãos enquanto presenciam um bombardeio na cidade.

Amanda e Ruth assistem juntas (e de mãos dadas) ao bombardeio da cidade onde viviam — Foto: Reprodução//Netflix
Amanda e Ruth assistem juntas (e de mãos dadas) ao bombardeio da cidade onde viviam — Foto: Reprodução//Netflix

Outro caso de união entre pessoas conflintantes é quando G.H. e Clay conseguem remédios para Archie na casa de Danny (Kevin Bacon), empreiteiro da casa do consultor financeiro. Danny se revela um sobrevivencialista extremamente antissocial e individualista, se recusando a fornecer qualquer tipo de recursos para estranhos. isso desperta a ira de G.H., que chega a apontar uma arma para o empreiteiro. Mas quando Clay implora por ajuda, os dois abaixam as armas e Danny os ajuda com medicamentos.

Após a reconciliação entre os dois grupos, Rose insere o DVD de Friends no aparelho do bunker. A canção “I’ll Be There For You” (Eu Estarei Lá Por Você, em português) toca em seguida. A inclusão da faixa é irônica, pois mostra que agora todos que antes brigavam estão agora unidos pela empatia e, ao mesmo tempo, pode mostrar como a arte esteve junta para expressar sentimentos e auxiliar nas reconciliações entre as duas famílias.

Clay se coloca entre as armas de G.H. e Danny para conseguir remédios para o seu filho — Foto: Reprodução/Netflix
Clay se coloca entre as armas de G.H. e Danny para conseguir remédios para o seu filho — Foto: Reprodução/Netflix

Antes dessa cena, Rose havia explicado ao irmão o porquê de seu fanatismo por Friends, alegando se importar muito com o destino final da sitcom. “Se ainda resta esperança nesse mundo, quero saber como as coisas acabam para eles”, diz a jovem se referindo ao protagonistas de Friends, mas que parece servir para as famílas Sandford e Scott.

Confira o trailer de O Mundo Depois de Nós

Com informações de Decider, IMDb, Netflix

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