A indústria do streaming, conhecida por suas produções milionárias e sucessos estrondosos, testemunhou um dos seus mais notórios fracassos com o cancelamento de Conquest, uma série de ficção científica da Netflix que prometia revolucionar o gênero. Com um orçamento de mais de US$ 55 milhões, a produção, que tinha Keanu Reeves como um dos produtores e era filmada em parte no Brasil, acabou se tornando um símbolo de desperdício e má gestão.
Esta saga começou em 2018, quando a Netflix adquiriu o projeto do diretor Carl Erik Rinsch por uma soma impressionante de 61,2 milhões de dólares, após uma acirrada disputa com a Amazon. Rinsch, conhecido pelo seu trabalho em 47 Ronins, um filme que não foi bem recebido pela crítica e pelo público, recebeu não apenas um orçamento generoso, mas também o raro privilégio do controle final do projeto.
A luta interna de Conquest
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As filmagens começaram no fim de 2019, mas logo surgiram problemas. Carl exibia um comportamento errático no set, incluindo teorias peculiares sobre a COVID-19 e alegações de que poderia prever raios. A produção enfrentou desafios significativos em São Paulo, em que o sindicato local da indústria cinematográfica interveio após receber reclamações sobre o tratamento de Rinsch com a equipe, caracterizado por gritos, palavras de baixo calão e irritação excessiva.
Keanu Reeves, que se tornou amigo dele durante as filmagens de 47 Ronins, interveio como investidor e produtor na tentativa de salvar a série. Apesar de seu envolvimento e do investimento substancial da Netflix, ela começou a sofrer atrasos significativos. O diretor alternava entre duas versões do roteiro, uma seguindo o plano original de 13 episódios e outra mais extensa que exigiria a aprovação de uma 2ª temporada.
Luxo em vez de produção
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A situação se complicou ainda mais quando Rinsch solicitou fundos adicionais, alegando que sem eles o projeto entraria em colapso. A plataforma de streaming cedeu e liberou mais 11 milhões de dólares, elevando seu investimento total para mais de 55 milhões de dólares.
No entanto, em vez de retomar as gravações, ele teria usado todo o dinheiro em apostas arriscadas no mercado de ações e criptomoedas, incluindo a compra de Dogecoin, que lhe rendeu 27 milhões de dólares. Este dinheiro, no entanto, não foi reinvestido na produção, sendo gasto em carros de luxo, relógios e roupas de grife.
Em meio a essa crise, a esposa do diretor, Gabriela Rosés Bentancor, que também era coprodutora da série, encerrou a parceria e o casamento com um pedido de divórcio. À medida que os problemas se intensificavam, a Netflix decidiu interromper o financiamento do projeto, marcando o fim de uma das mais tumultuadas produções da plataforma.
Atualmente, Rinsch e a Netflix estão envolvidos em um processo de arbitragem confidencial, com o diretor alegando que a empresa violou o contrato e lhe deve pelo menos 14 milhões de dólares em danos. A empresa nega dever algo a ele e descreve suas exigências como uma tentativa de extorsão.