A bebê segue internada no HU, com cuidados 24 horas, atenção e carinho da equipe
Retrato de um Brasil profundo, a pequena Maria, que em 43 dias de existência luta pela sobrevivência e perdeu a mãe, também espelha uma onda de amor pelo País.
Depois de 14 “nãos” de casais de Mato Grosso do Sul que estavam na fila do SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento), ou seja, habilitados para adoção de recém-nascidos, a possibilidade de adotar a bebê foi aberta para o Brasil. Maria ainda é um nome extraoficial, mas que batiza mais de 100 mil sul-mato-grossenses.
Primeiro, a Justiça vai analisar 37 cadastrados no SNA em âmbito nacional. Caso a busca não tenha sucesso, fará avaliação dos que fizeram contato por e-mail e telefone. Até ontem, já eram 700 mensagens eletrônicas.
Essa rede de amor também ressoa no Campo Grande News, que conta aqui a jornada de Janaína, Gleice e Elisandra. Elas representam as muitas mulheres que procuraram o jornal relatando o desejo de cuidar da criança.
“Se fosse a escolhida, já estaria aí”. A afirmação é de Janaína da Silva Lima, de 29 anos, que mora em Juazeiro do Norte (Ceará), a 2.774 quilômetros de Campo Grande. Ela é mãe de anjo, um bebê que partiu ao nascer de 35 semanas (oito meses).
“Entrei em trabalho de parto, mas ele já estava sem vida dentro de mim. Não esqueço nunca do meu filho. E é muito difícil ver uma criança numa situação dessas. Quero muito ser mamãe dessa princesa”, diz Janaína, sobre seu sonho e do marido de adotar a criança.
Moradora em Campo Grande, a técnica de enfermagem Gleice Santos, 35 anos, conta da vontade de adotar a bebê e aumentar a família. Ela é casada, tem filha de 9 anos e “tentante” (são três anos de tentativas de engravidar).
Devido à profissão, tem contato com recém-nascidos prematuros e se sensibilizou ao ver muitos irem para abrigos. No caso de Maria, se espantou com a recusa dos habilitados na fila de adoção.
“Minha filha nasceu prematura, passei um tempo no hospital e graças a Deus hoje é saudável. Toda criança fica dodói. Minha filha foi hospitalizada duas vezes na semana passada, mas fiquei lá, lado a lado. Criança fica dodói, não tem jeito”, afirma.
Protagonista de uma dura jornada pessoal, Elisandra da Silva Ribeiro, 40 anos, se comoveu com a história da bebê. Maria perdeu a mãe, Elisandra perdeu cinco filhos ainda no período gestacional.
“Fiquei sabendo pelo Campo Grande News e me tocou muito. Ela é tão pequena e não tem com quem ficar”, afirma Elisandra, que mora em Bandeirantes, a 70 km da Capital.
Enquanto não há definição sobre a adoção da bebê, ela segue internada no HU (Hospital Universitário) de Campo Grande. Por lá, Maria e os demais bebês recebem cuidados 24 horas, atenção e carinho da equipe.
A criança tem episódios de convulsão e é alimentada por sonda. No nascimento, teve falta de oxigenação cerebral, o que comprometeu funções cerebrais.
A mãe biológica faleceu poucos dias após o parto, mas não havia passado pelo pré-natal uma única vez sequer. Com isso, a bebê nasceu com graves problemas de saúde.
A jornada de Maria chegou ao noticiário dias antes de uma data muito importante. O 25 de maio marca o “Dia Nacional da Adoção”. Atualmente, 86 crianças e adolescentes disponíveis para a adoção em Mato Grosso do Sul. Até 2 anos de idade, são apenas quatro. De 2 a 6 anos, são 16 crianças.
Serviço – Para facilitar o acesso a casais interessados, a Justiça também disponibilizou um contato via WhatsApp pelo (67) 3907-5760. Há ainda o número (67) 98462-8245 ou o e-mail: adocao.coordenadoria@tjms.jus.br