Rafa e Laryssa ganharam “filhos” nos últimos anos e se viram no papel de mãe quando faltou compreensão
“Deus, eu não sou digno da sua misericórdia”. Essa foi a frase que a modelo transexual Laryssa Hoffmann ouviu inúmeras vezes de um dos seus “filhos”, quando ele estava no processo de descoberta da própria sexualidade.
Por ser um homem gay e evangélico, os primeiros passos rumo à aceitação não foram fáceis para ele. A mãe biológica, muito religiosa, não expulsou o expulsou de casa como ocorre em muitas famílias, no entanto, a proximidade não era suficiente para o jovem se abrir e entender que nada precisava mudar. Foi então que ele encontrou acolhimento em Laryssa, a pessoa que até hoje ele chama de mãe e tem orgulho de dizer ‘minha mãe de bicha’.
A expressão dita com frequência por pessoas LGBTQIA+ faz referência às pessoas que os acolhem e os ajudam em diferentes processos, como o de aceitação e também de transição, no caso de transexuais.
Por isso, neste Dia das Mães, resolvemos dar voz também às mães de bicha, para entender o impacto que a expressão tem na vida dessas pessoas. Na de Laryssa, é a chance de dar o amor que para ela mais faltou na vida. “Não fui criada pela minha mãe, fui criada pelo meu pai. A falta desse afeto de mãe talvez tenha me feito transmitir isso às pessoas que não tiveram esse afeto”.
Laryssa, que saiu de casa cedo e encontrou na prostituição saída para sobrevivência, diz que encontrou no caminho inúmeras pessoas com a mesma realidade e passou a ajudar com palavras de força.
Clayton Neves, jornalista, é um dos filhos de Laryssa que por muito tempo usou a frase presente no início deste texto. “Nossa amizade começou por conta da igreja, ele achou que não era digno da misericórdia de Cristo. Eu sempre acreditei que podia manter minha fé e que apenas não estava dentro de um padrão que a igreja colocava, por isso, a gente se apoiava”, lembra.
Com o tempo, Laryssa passou a apoiar muitos amigos e amigas. “Meu pai também nunca me expulsou de casa, mas eu saí de casa, fui morar com outras pessoas e me prostituir para me manter, dessa forma fui criando vínculos e doando aquilo que eu não tive, o acolhimento e a compreensão”.
Com a drag queen Rafa Spears não foi diferente. Para muitos amigos ela é a “mãe de bicha” com orgulho. E foi nesse acolhimento que ela viu nascer o amor que também sempre fez falta. “Eu também não tive muito diálogo com a família, tudo o que eu fazia era coisa de viado, minha mãe também não me aceitou, ela me engoliu. O acolhimento que eu tive foi das minhas filhas bichas e das minhas matriarcas”.
Na visão de Rafa, ser ‘mãe de bicha’ hoje é zelo, cuidado e amor, independente de laço sanguíneo. “É uma conversa sobre algo sério, um momento acolhedor, com intuito de mostrar sempre o que está acontecendo e qual o direcionamento, como eu gostaria que uma mãe fizesse”, descreve.
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