O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou as críticas à privatização de empresas estatais principalmente com relação à Petrobras e aos Correios, e afirmou que a Telebras – que decidiu retirar do Programa Nacional de Desestatização – tem potencial para concorrer com estrangeiras no fornecimento de infraestrutura de comunicação ao país.
As críticas foram feitas durante uma visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da estatal na manhã desta terça (27), em Brasília. Ele assinou um contrato de prestação de serviços entre a Telebras e o Ministério do Trabalho e Emprego para conectar as 409 agências e monitoramento contra ataques cibernéticos.
Lula afirmou que a Telebras tem R$ 1 bilhão em caixa para investimentos e que quer torná-la referência no fornecimento de serviços ao Estado em até dois anos, principalmente no gerenciamento de dados públicos e do sistema brasileiro de inteligência artificial para não ser dependente “de duas ou três empresas estrangeiras”.
Durante o discurso, Lula afirmou que o país viveu momentos em que tudo o que era bom vinha da privatização ou que deveria vir de empresas estrangeiras, e que vê como “desfaçatez” pessoas que vão à TV dizer que a desestatização significa modernidade. No entanto, apesar da crítica, diz que não é contra a iniciativa privada.
“Eu acho que nós temos que trabalhar junto com a iniciativa privada, tirar proveito do potencial que eles têm e oferecer pra eles também as coisas que a gente tem. Não precisa desmontar o Estado”, pontuou.
O presidente ainda falou da dificuldade que tem com a diretoria da mineradora Vale, privatizada em 1997 e que se tornou alvo dele para tentar recentemente emplacar o ex-ministro Guido Mantega como novo presidente. Nesta segunda (26), no entanto, o conselho da empresa elegeu o vice-presidente financeiro, Gustavo Pimenta, para a presidência.
“A Vale antes tinha uma diretoria, eu sabia quem era o presidente. Hoje não tem dono, uma tal de ‘corporation’ que é um monte de gente com 2%, com 3%, que nem cachorro de muito dono. Morre de fome, de sede, porque todo mundo pensa que colocou água, que deu comida, e ninguém colocou”, disse Lula ressaltando a importância que as empresas tenham um dono, “um nome, porque assim o povo tem de quem cobrar”.
Recuperação da Telebras
Lula afirmou que “é muito significativo” o interesse do governo em recuperar a Telebras e que houve momentos de “muita incerteza” de que as empresas estatais – na frustração de não se conseguir privatizá-las – começaram a ser desmontadas com a venda de ativos. Ele apontou principalmente a Eletrobras, que foi vendida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e mais recentemente a venda da Sabesp, em São Paulo.
“No caso dos Correios e da Telebras, chegamos ao cúmulo da ignorância de que essas duas empresas estavam praticamente proibidas de vender serviço ao Estado mesmo que oferecessem preço mais barato. Ou seja, é a ignorância elevada à sétima potência, um Estado que não se respeita, um governo que não tem visão de Estado, pessoas que não pensam no Brasil”, disse.
O presidente afirmou, ainda, que há empresas que precisam “ser inexoravelmente” do Estado como ocorre em países como Alemanha, França e até mesmo Estados Unidos. Para ele, muita gente fala de abrir o comércio para os serviços estrangeiros, mas que ninguém conta da dificuldade que é fazer o caminho contrário.
Inteligência artificial
A retirada da Telebras do Programa Nacional de Desestatização foi reforçada por Lula aos ministros Esther Dweck (Gestão e Inovação) e Juscelino Filho (Comunicações) como de grande importância para o gerenciamento do sistema brasileiro de inteligência artificial, anunciado por ele no final do mês de julho e que terá R$ 23 bilhões em investimentos.
“Uma empresa como essa aqui é um garante de que a gente pode discutir inteligência artificial sem precisar fica subordinado a apenas duas ou três nações que já estão na frente”, pontuou questionando a necessidade de se privatizar uma empresa de comunicação como a Telebras frente à essa tecnologia.
Ele ainda questinou o motivo de se contratar um serviço privado de inteligência artificial para gerenciar dados públicos que “somente o Estado tem que ter”, como de saúde e educação.
“Se nós temos uma empresa com um potencial desse, precisamos explorar esse potencial. E se a gente pode ser o primeiro no mundo, vamos ser o primeiro. Mas, se não for no mundo, que sejamos o primeiro e mais qualificado aqui no Brasil, por isso vim aqui”, completou o presidente.