Riscos de vazamento de patógenos em laboratórios paralisam pesquisas científicas

Desde a pandemia da covid-19, cientistas relatam dificuldades na hora de iniciar ou mesmo de continuar pesquisas com vírus em laboratórios de biossegurança. A paralisação é provocada pelo suposto medo de que patógenos escapem dessas instalações com inúmeros protocolos de segurança, infectem humanos e matem milhões.

O cenário catastrófico e proibitivo tem como base uma das hipóteses — algo não comprovado — que explicaria a origem do coronavírus SARS-CoV-2. Afinal, ainda circula a ideia de que o vírus da clique aqui as unidades de saúde onde a vacina está disponível. Nestes mesmos locais, estão sendo aplicadas doses para evitar a influenza. Os testes para detectar a covid-19 escapou do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, e isso teria dado origem à pandemia. Para evitar que algo próximo disso aconteça “novamente”, a saída é impedir novas pesquisas com vírus oriundos de animais selvagens em laboratórios.

Vale mencionar que a hipótese ainda mais provável para explicar a origem da covid-19 é a de que o vírus surgiu originalmente em um morcego, tenha infectado um mamífero intermediário e, no mercado de Wuhan, ocorreram os primeiros casos de transmissão para humanos. A questão é que, até o momento, este animal intermediário não foi localizado, abrindo brechas para a ideia do vazamento de laboratório.

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Pesquisas com ganho de função

Hoje, as pesquisas que são alvo de cortes de financiamento e estão sendo descontinuadas, em especial nos Estados Unidos, envolvem um tipo de técnica pontual: o ganho de função, ou seja, quando um vírus é editado geneticamente em laboratório para se tornar mais mortal ou mais contagioso, por exemplo.

Para os defensores das pesquisas com ganho de função e vírus mutantes, a estratégia ajuda a entender como um patógeno pode evoluir. Traçando esses possíveis cenários e mutações potencialmente perigosas, é possível identificar soluções para problemas que ainda não existem na natureza. Estas análises também ajudam a entender quais são os agentes infecciosos mais perigosos.

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Só que há riscos, como os vazamentos em laboratórios de biossegurança nível 4 desses vírus ou bactérias melhorados, que alguns países preferem não correr hoje.

Estudos descontinuados nos EUA

Os principais casos de descontinuação de pesquisas com vírus são dos EUA. Por exemplo, pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia receberam a aprovação inicial para estudar os efeitos de um vírus mutante da gripe aviária em furões. No entanto, a decisão final foi de não autorizar a pesquisa — sem maiores detalhes sobre os motivos.

Em paralelo, uma pesquisa internacional que envolvia um financiamento de US$ 125 milhões (cerca de 632 milhões) foi cancelada após pressão de senadores norte-americanos. Isso porque o estudo previa a coleta de vírus já existentes em animais selvagens, espalhados por diferentes continentes.

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Excesso de cautela?

A justificativa para cancelar esta pesquisa internacional é de que os materiais biológicos coletados, como excrementos, sangue ou mesmo saliva, precisariam ser enviados de um país para o outro e, nesse caminho, qualquer acidente representaria o potencial risco de um surto e, quem sabe, de uma pandemia.

A medida é vista como excessivamente cautelosa, considerando que as pessoas que moram próximas de florestas e, com o avanço do desmatamento, por exemplo, já estão expostas a riscos teoricamente maiores de contaminação.

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Inclusive, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) considera que o Brasil é “uma potencial incubadora da próxima pandemia”. Isso porque concentra algumas características específicas, como megadiversidade de espécies e desmatamento de áreas florestais. Diante desse cenário, a probabilidade de um vírus desconhecido infectar um ser humano saudável não deve ser desconsiderado.

Embora esta pesquisa brasileira seja bastante anterior ao atual capítulo da polêmica nos EUA, ela sugere um caminho oposto e defende a importância de se entender quais são os riscos do vírus, com as devidas medidas de segurança.

Como conter a próxima pandemia?

Para os defensores de pesquisas na área de virologia, este campo de estudo é fundamental para mapear o potencial evolutivo da influenza aviária de alta patogenicidade associada ao subtipo A (H5N1) — no mundo todo, este agente infeccioso está adoecendo animais, foi identificado em galinhas de subsistência no Brasil e já infectou um humano nos EUA.

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“A próxima pandemia de gripe está se formando na natureza, mas temos muito poucos meios de detê-la”, afirma Troy Sutton, virologista e cientista da Universidade Estadual da Pensilvânia, para o jornal The New York Times. O especialista também explica que faltam meios para identificar quais são as mutações mais perigosas, diante das limitações nos estudos.

“Este ‘trem de carga’ está chegando e precisamos fazer tudo o que pudermos para nos anteciparmos a isso”, pontua Sutton. No entanto, o especialista reconhece que os preparativos não são realizados como deveriam.

Fonte: NYT  

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