Brothers: A Tale of Two Sons Remake não justifica a própria existência

Toda vez que um remake é anunciado, a primeira pergunta que eu faço é “por quê?” Cada projeto vai responder de uma forma, como atualizar mecânicas, repaginar um título antigo, reimaginar um jogo nos tempos atuais ou até torná-lo acessível para o público. Resident Evil 2, Crash Bandicoot N. Sane Trilogy e o recente Persona 3 Reload são ótimos exemplos de quando um game é refeito e sua existência faz sentido.

Há toda uma discussão sobre o uso do termo remake e remastered, já que muitas vezes eles são usados de forma errônea ou trocada, se tornando uma escolha mais relacionada ao marketing do que necessariamente a sua produção. Vocês realmente acham que faz sentido Death Stranding receber um “Director’s Cut” sendo dirigido pelo Kojima, desenvolvido pela Kojima Production e tento toda a liberdade criativa do mundo para produzi-lo da forma que quer? Ele não se trata de um remake, mas é um ótimo exemplo de como a equipe de publicidade pode fazer escolhas de acordo com o perfil de compra do público e ignorando a proposta original do projeto.

Há, sim, games que levam esse nome incorretamente, como o caso de The Last of Us Part 1 — que por algum motivo é vendido como remake — e outros que não conseguem justificar a própria existência. Esse segundo é o caso de Brothers: A Tale of Two Sons Remake, desenvolvido pela Avantgarden e distribuído pela 505 Games.

Como tudo começou

A proposta desse jogo é revitalizar o game de 2013 como comemoração dos 10 anos de seu lançamento. Esse foi o primeiro videogame de Josef Fares, o famoso diretor responsável pela frase “F*ck the Oscars” e por ser o cabeça por trás de It Takes Two, o vencedor do Game of the Year de 2021.

A história conta a jornada de dois irmãos que devem buscar uma cura para seu pai que está doente, encarando diversos obstáculos e perigos, trama que poderia ter sido escrita pelos irmãos Grimm. O grande diferencial dele foi a sua gameplay, já que cada analógico controla um personagem. Isso desafia o jogador a resolver os quebra-cabeças e passar pelas sessões de plataforma sem embolar o cérebro.

Lançado através do Xbox Live Arcade, mesmo serviço que popularizou jogos como Limbo, Bastion e Super Meat Boy, o título foi um completo sucesso de crítica, levando vários prêmios e recebendo diversos portes para outras plataformas. Desde 2019, Brothers: A Tale of Two Sons está disponível para Xbox 360, PC, PS3, PS4, Xbox One, Nintendo Switch, iOS e Android.

Todo o esplendor de Brothers: A Tale of Two Sons originalFonte:  505 Games 

Eu fiz questão de jogar o original logo antes de analisar o remake, pois, além de ser extremamente fiel ao original, queria saber o quão datado ele estava para entender o que essa nova versão melhorou. O resultado foi bem surpreendente – e acabou me preocupando um pouco.

Brothers: A Tale of Two Sons é um jogo muito atual no que diz respeito a mecânicas, animações, sons, visuais e afins. Claro, ele não tem uma iluminação com ray tracing ou 120 frames por segundo, mas ele é bem amarradinho em praticamente todos os aspectos técnicos.

Um pequeno incomodo que tive ao jogar o título original no PC foi o seu launcher, que permitia mexer na resolução e sincronização vertical, mas que só abria quando eu o iniciava pela página da Steam. Se eu iniciava pelo atalho da área de trabalho, a única configuração de vídeo disponível era o gama. Após jogar pouco mais de 40 minutos com barras pretas em todos os cantos da tela, pude arrumar a configuração para 1440p e rodar ele completamente liso a 60 FPS (já que ele é travado a essa atualização de quadros).

A busca pela curaA busca pela curaFonte:  505 Games 

Sua gameplay e trama envelheceram tão bem quanto um bom whisky, dando nós na minha cabeça e me envolvendo emocionalmente com a história dos dois irmãos, isso sem dizer uma única palavra num idioma existente. Foi muito bom entender a relação e personalidade de cada um através de pequenas interações com o ambiente e cutscenes curtas.

O que acabou me preocupando foi que eu não conseguia encontrar uma justificativa para a existência do remake, isso antes mesmo de iniciá-lo. O título original ainda é muito bom, não está datado e está extremamente acessível, seja em relação a plataformas ou mesmo preço. Em promoção, ele sai por R$ 6,99. No PS4 ele custa quase R$ 200, mas está disponível para os assinantes da PS Plus Deluxe sem custos adicionais.

Buscando respostas

Ao iniciar Brothers: A Tale of Two Sons Remake, descobri estar certo sobre minhas expectativas. Não me entenda mal, o game é realmente bom principalmente por não mexer na fórmula de bolo que estava dando certo. Ele é tão divertido e emocionante quanto o original, exatamente por ter a fidelidade como pilar de seu desenvolvimento.

Entre as mudanças desta versão, temos uma nova direção para as cutscenes, com novas animações e ângulos de câmera, recriação da trilha sonora com uma orquestra ao vivo e novos segredos – que não fui capaz de encontrar, mas admito não ter procurado com afinco. Além dessas, há outras duas bem importantes: os visuais e o modo cooperativo.

O mal espreita na escuridãoO mal espreita na escuridãoFonte:  505 Games 

Desenvolvido na Unreal Engine 5, o game traz uma iluminação mais realista, mas compromete a performance.  Ele está rondando a 454p e 720p no Xbox Series S no modo qualidade, segundo o Digital Foundry. Isso é, com todas as letras, pífio, beirando o ridículo. No PC, eu não tive problemas, mas as cutscenes são travadas a 60 FPS.

Os modelos dos personagens e as texturas também foram atualizados. Os ambientes estão realmente bem lindos e diversos personagens, como os trolls, ficaram mais detalhados, mas o irmão mais novo ficou desproporcional, beirando o vale da estranheza. Grande parte do tempo, vemos ele de costas, então não é possível perceber o quão feio ele está.

A outra questão é o modo cooperativo, que nesta versão está disponível para os jogadores diretamente do menu inicial. Nas palavras de Josef Fares “A ideia, se você jogou do começo ao fim, é que você está controlando esses dois irmãos e se conectando fisicamente com eles com seus braços. Portanto, é um jogo cooperativo, mas é para um jogador.” A ideia é que ele seja jogado por uma única pessoa.

Jogar essa parte individualmente deve ser bem sem graça.Jogar essa parte individualmente deve ser bem sem graça.Fonte:  505 Games 

Se seguirmos a linha de pensamento de Roland Barthes em seu ensaio “A morte do autor”, podemos descartar o que Fares queria quando concebeu sua obra, já que, a ele, ela não pertence. O leitor – que aqui é o jogador – vai não só interpretar a obra da forma que sua bagagem cultural o direciona, mas também vai buscar experienciá-la da forma que quiser.

No Nintendo Switch, por exemplo, cada pessoa pode ficar com um Joy-Con. No PC, pode-se usar mods que modificam o jogo. No Xbox, dois jogadores dividem o mesmo controle, um do lado do outro. Não convém a mim ou qualquer outra pessoa dizer a forma que você deve jogar um jogo.

Porém, quando a própria desenvolvedora cria um modo cooperativo para o jogo, ela está matando o propósito inicial de Brothers: A Tale of Two Sons. Em vez de indicar que o jogo é singleplayer, e cada um dê seus pulos para compartilhar a jogatina com outra pessoa, ela abraça que o game é multiplayer.

E sendo bem claro, Brothers: A Tale of Two Sons Remake é medíocre como um jogo cooperativo. Em duas pessoas, seus quebra-cabeças são bem simples e eu até diria que perde sua carga emocional. Ele é bem diferente de A Way Out e It Takes Two, os outros dois títulos dirigidos por Josef Fares, cujo foco é compartilhar a experiência com outra pessoa, de preferência no mesmo ambiente.

Nesse caso, não houve a morte do autor, mas sim a morte do propósito, do ideal, do diferencial.

Vale a Pena?

Brothers: A Tale of Two Sons Remake não é um jogo ruim, mas ele não consegue em momento nenhum justificar sua existência ou mesmo porque o jogador deveria comprar essa versão em vez da original. Os dois casos que eu consigo imaginar valendo a pena comprar o título são:

  1. A pessoa nunca jogou Brothers: A Tale of Two Sons e não assina a PS Plus Extra.
  2. A pessoa nunca jogou Brothers: A Tale of Two Sons e tem um Xbox Series X, já que ambas as versões possuem preços similares.

Se já tiver comprado o original, saiba que ele está disponível para jogar via retrocompatibilidade do console. Eu recomendo fortemente que busque a versão de 2013.

Nota do Voxel: 50

Pontos positivos (prós):

  • Iluminação e texturas mais bonitas
  • Preserva as qualidades do original

Pontos negativos (contras):

  • Não justifica a própria existência
  • Tem um desempenho péssimo
  • O modelo do irmão mais novo é horroroso
  • O modo coop acaba com a proposta do jogo original

Brothers: A Tale of Two Sons Remake já está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S e X. Uma key para review de computador foi cedida ao Voxel pela 505 Games.

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