América Latina, EUA, China, Rússia e inflação: as previsões do FMI para este ano e 2024

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta terça-feira
(11) seu novo relatório de Perspectivas Econômicas Mundiais.

O documento, que atualiza os dados de janeiro do órgão, traz
projeções de crescimento econômico e inflação de cada país, com destaque para
as duas maiores economias do mundo (Estados Unidos e China), a América Latina e
a Rússia, que enfrenta o segundo ano de sanções do Ocidente e aliados devido à invasão
que promoveu à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Confira os prognósticos do FMI:

América Latina

Segundo o fundo, as economias da América Latina e do Caribe
crescerão ligeiramente em 2023, mas continuarão enfrentando a alta inflação.

O documento estima que a região crescerá 1,6% em 2023, dois
décimos abaixo do que se esperava anteriormente, e longe do crescimento de 4%
registrado em 2022.

Isso porque muitos países latino-americanos são exportadores
de matérias-primas, algo que jogou a seu favor no ano passado, graças ao
aumento dos preços dos alimentos ou dos combustíveis causado pela invasão russa
da Ucrânia, mas que vai dificultar seu crescimento neste ano.

“2022 foi o ano em que os preços das commodities começaram a
subir, depois começaram a cair e devem cair ainda mais em 2023”, explicou o
diretor do Departamento de Estudo do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em
coletiva de imprensa por telefone.

Isso, juntamente com os aumentos agressivos das taxas de
juros de muitos bancos centrais para conter a inflação, tirou “algum impulso”
da região, à medida que os governos começam a desfazer alguns dos programas de
ajuda fiscal que adotaram durante a pandemia.

Em suma, a América Latina tem se mostrado “muito resiliente”
aos desafios dos últimos anos, disse a vice-diretora do Departamento de Estudos
do Fundo, Petya Koeva-Brooks.

No caso do emprego, “já vemos níveis superiores aos
anteriores à pandemia”, assegurou.

No entanto, as pressões inflacionárias continuarão altas em
muitos países, especialmente na Argentina, onde o fundo projeta uma inflação
superior a 98% para 2023, e na Venezuela, onde chegará a 400%.

As principais economias da região terão um crescimento muito
moderado ao longo de 2023, em linha com as perspectivas econômicas mundiais.

É o caso do México, que crescerá 1,8% em 2023, depois de ter
registrado um aumento de seu Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1% em 2022.

A cifra vai moderar ainda mais em 2024, para 1,6%, enquanto
a inflação passará de 6,3% este ano para 3,9% no ano que vem.

O Chile, por sua vez, é o único país latino-americano que
viverá uma recessão, segundo dados do FMI, que projeta uma queda de um ponto
percentual do PIB para 2023.

O país se recuperará em 2024 e crescerá 1,9%, segundo as
projeções. Até lá, a inflação se situará em 4%, após ter caído para 7,9% neste
ano.

Já a Colômbia experimentará um crescimento muito moderado de
1% em 2023 e 1,9% em 2024. A inflação crescerá este ano, para 10,9%, mas
recuará para 5,2% no ano que vem.

Finalmente, o Brasil, um dos primeiros países a começar a
aumentar as taxas de juros para conter a espiral inflacionária, verá seu PIB
crescer apenas 0,9% este ano, enquanto a inflação cairá para 5%.

Em 2024, o país crescerá 1,5% e manterá a inflação em 4,8%,
segundo projeções do fundo.

Os países da América Central ganharão um pouco mais de
força, com o FMI prevendo um crescimento de 3,8% tanto em 2023 quanto em 2024,
enquanto a inflação será gradualmente reduzida para 5,5% neste ano e até 4% no
ano que vem.

A região que mais crescerá será o Caribe, cujo PIB avançará
9,9% neste ano, embora com inflação de 13,5%, e voltará com força em 2024,
quando a economia registrará alta de 14,1%, já com a inflação mais moderada, em
torno de 6,8%.

Estados Unidos

O FMI elevou em dois décimos suas perspectivas de
crescimento para os Estados Unidos, para 1,6% em 2023, embora tenha alertado
para o perigo de que o país siga produzindo “perturbações” nos mercados
financeiros que podem piorar as perspectivas.

O organismo também elevou sua projeção de crescimento para a
maior economia mundial em um décimo de ponto percentual, para 1,1%, em 2024.

O fundo previu ainda que a inflação se reduzirá este ano
para 4,5% e que em 2024 descerá para perto de 2%, a meta do Fed, e se situará nos
2,3%.

O FMI advertiu, porém, que o desemprego nos Estados Unidos
pode subir este ano para 3,8%, em comparação a 3,6% em 2022, e disparar para
4,9% em 2024, ano eleitoral.

Com o objetivo de desacelerar a economia e conter a
inflação, o Fed vem realizando uma série de altas de juros desde março de 2022.
Um total de nove aumentos elevou a faixa para entre 4,75% e 5%, a maior taxa
dos últimos 16 anos.

Esses aumentos visam esfriar a principal economia do mundo a
baixar os preços e, segundo advertiram os especialistas, podem acarretar no
aumento da queda histórica do desemprego, um dos motivos mais citados pelo
presidente Joe Biden para atestar a saúde da economia.

O crescimento dos EUA projetado para os próximos dois anos
está abaixo da média mundial de 2,8% estimada pelo FMI, em um contexto de forte
abrandamento das economias mais desenvolvidas (1,3% em 2023), compensado pelo
crescimento das emergentes (3,9%).

Se em relatórios anteriores o FMI enfatizou a importância da
guerra da Rússia contra a Ucrânia para o futuro das previsões econômicas
globais, nesta ocasião foi acrescentado um novo ingrediente: a crise bancária,
iniciada nos Estados Unidos com as quebras do Silicon Valley Bank e do
Signature Bank há algumas semanas e que se alastrou a alguns bancos europeus,
aparece como um dos principais riscos futuros.

“Isso está obscurecendo nossas perspectivas” e “estamos
preocupados que isso possa resultar em uma desaceleração mais acentuada e
elevada se as condições financeiras piorarem significativamente”, disse Pierre-Olivier
Gourinchas.

Assim, afirma o FMI no relatório, “apesar das fortes medidas
políticas de apoio ao setor bancário e tranquilizar os mercados, alguns
investidores se tornaram muito sensíveis a qualquer notícia”.

Em seu relatório, o FMI traça um possível cenário de
perspectivas negativas, que chama de “cenário adverso plausível”, no qual
poderiam ocorrer “novos choques derivados de tais fragilidades, com um impacto
potencialmente significativo na economia global”.

China

O crescimento da China após a reabertura de sua economia
devido ao fim da política de “Covid Zero” impulsionará em grande parte a
recuperação dos países emergentes em 2023, segundo o novo relatório do FMI.

De acordo com o documento, o PIB da China crescerá 5,2% este
ano e 4,5% em 2024.

Essas cifras são consideravelmente superiores aos 3% de
crescimento que a segunda maior economia do mundo apresentou durante 2022.

“Como a China absorve cerca de um quarto das exportações da
Ásia e entre 5% e 10% das de outras regiões, a reabertura e o crescimento de
sua economia provavelmente gerarão repercussões positivas”, explicou o
relatório.

No entanto, a melhoria das condições de vida e o progresso
econômico da China também contribuirão para desacelerar o crescimento global no
médio prazo, à medida que o país converge com outras regiões mais
desenvolvidas.

Nesse sentido, o FMI estima que a economia global crescerá
cerca de 3% nos próximos cinco anos, o menor nível desde a década de 1990.

O relatório também detalha que, graças ao fato de que as
novas infecções por Covid-19 parecem ter diminuído consideravelmente na China,
as interrupções na cadeia de suprimentos serão moderadas.

Índia

O outro grande motor do mundo em desenvolvimento será a
Índia, que crescerá 5,9% em 2023 e 6,3% em 2024, segundo o FMI.

Esses números são, porém, ligeiramente inferiores aos
projetados pelo fundo em seu relatório anterior, no qual estimava um
crescimento de 6,1% para 2023 e de 6,8% para 2024.

O país asiático caminha para se tornar o mais populoso do
mundo, à frente inclusive da China, e no ano passado sua grande recuperação
econômica (o PIB indiano cresceu 6,8% em 2022) o tornou a quinta maior economia
do planeta.

A Índia, que este ano ocupa a presidência do G20, vem
expressando seu desejo de se tornar a voz dos países em desenvolvimento.

Rússia

O FMI estimou que a Rússia crescerá 0,7% neste ano, quatro
décimos a mais do que o previsto anteriormente, apesar das sanções impostas por
grande parte da comunidade internacional que tentam minar sua economia em
reação à invasão da Ucrânia.

O FMI reduziu, porém, o crescimento para o próximo ano em
oito décimos, para 1,3%, depois da economia russa ter se contraído 2,1% no ano
passado.

Pierre-Olivier Gourinchas afirmou que o crescimento da
Rússia em 2023 é resultado de “um significativo resquício de atividade em 2022”,
ano em que foram tomadas “medidas fiscais muito fortes” e em que “muito do
gasto fiscal estava relacionado aos gastos militares”.

Além disso, “está ligado às exportações de energia”, já que
China e Índia estão absorvendo parte do que era vendido para a Europa, mas “a
expectativa é que essas exportações de energia diminuam consideravelmente”
porque “há um preço mais baixo ao qual a Rússia pode estar vendendo seu
petróleo” e porque “não está vendendo tanto gás natural para a Europa”.

Por isso, longe de pensar que as sanções não estão surtindo
efeito, o FMI estima que até 2027, cinco anos após o início da guerra, a
economia russa será “7% menor do que teria indicado a previsão anterior à
guerra”, destacou Gourinchas.

“O efeito cumulativo é bastante forte, enquanto a maioria
das outras economias deve se recuperar e se aproximar da previsão anterior a
2022”, explicou.

As consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia são
uma das principais razões para o baixo crescimento mundial estimado pelo fundo,
de 2,8%, um décimo a menos do que o previsto em janeiro.

“A invasão russa da Ucrânia e a guerra em curso causaram
graves comoções nos preços de commodities e da energia e perturbações
comerciais, o que provocou o início de uma reorientação e ajustes significativos
em muitas economias”, observou o fundo em seu relatório.

A evolução da guerra será vital para o crescimento mundial,
especialmente da Europa.

Depois de ter evitado uma “crise do gás” no inverno passado
graças ao bom armazenamento na Europa e à menor demanda devido ao clima “atipicamente
ameno”, uma escalada da guerra “poderia desencadear uma nova crise energética
na Europa e agravar a insegurança alimentar em países de baixa renda”, alertou
o FMI.

Um possível aumento nos preços dos alimentos, se a
iniciativa de grãos do Mar Negro falhar, “pesaria mais fortemente sobre os
importadores de alimentos, particularmente aqueles que não têm espaço fiscal
para amortecer o impacto nas famílias e empresas” e, com isso, “a agitação
social pode aumentar”.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia também está causando fragmentação global e aumentou as tensões geopolíticas, dividindo a economia mundial em blocos, com constantes barreiras ao comércio, ressaltou o fundo.

Fonte

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