Antes mesmo de ser chamado de buraco negro, o cientista britânico John Michell publicou uma carta na qual propôs a existência de um objeto tão massivo que não permitiria sequer que a luz escapasse de sua força gravitacional. Mas foi a partir da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, que o astrônomo e físico alemão Karl Schwarzschild escreveu mais sobre as propriedades desses fenômenos, e o termo buraco negro passou a ser mais utilizado na comunidade científica.
O corpo Cygnus X-1 é a primeira fonte de raio-x considerada como um candidato de buraco negro solar, descoberto em 1964. Porém, a primeira fotografia de um buraco negro foi publicada apenas em 2019, quando o observatório Event Horizon Telescope (EHT) coletou dados de um buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87 — ele está localizado a aproximadamente 54 milhões de anos-luz de distância da Terra.
Apesar de todas as informações relevantes coletadas ao longo dos anos, os buracos negros ainda são misteriosos e a maioria de suas características é incompreendida pela ciência. Inclusive, existem diversas teorias sobre o que são esses corpos celestes massivos; alguns cientistas até teorizam que talvez estejamos vivendo dentro de um buraco negro.
Mas muita calma nessa hora. Isso não quer dizer que a Terra foi literalmente sugada para num buraco negro há bilhões de anos. Na verdade, é possível que tudo que conhecemos ao nosso redor tenha surgido a partir de interações gravitacionais em algum objeto supermassivo presente no universo.
Talvez seja difícil de imaginar como isso poderia acontecer, mas nos reunimos informações de especialistas da área para destrinchar um pouco mais sobre essas teorias. Afinal, será que estamos presos em um buraco negro?
Vivendo dentro de um buraco negro
Os cientistas descrevem os buracos negros como regiões do espaço onde a gravidade é tão poderosa que nada que esteja perto o suficiente escape de sua força. Até a luz é puxada para dentro do horizonte de eventos, nome dado à área do buraco negro onde a gravidade é intensificada e nada pode escapar. Ou seja, é um ponto de não retorno onde tudo que chegar próximo do horizonte de eventos será sugado.
“Na relatividade geral clássica, um buraco negro impede que qualquer partícula ou forma de radiação escape da sua prisão cósmica. Para um observador externo, quando um corpo material cruza um horizonte de eventos, todo o conhecimento de suas propriedades materiais é perdido. Apenas os novos valores de M [massa], J [momento angular] e Q [carga elétrica] permanecem. Como resultado, um buraco negro engole uma enorme quantidade de informação”, disse o astrofísico francês Jean-Pierre Luminet em um estudo publicado em 2016.
Se realmente estivéssemos vivendo em um buraco negro, talvez nunca perceberíamos a diferença.Fonte: Getty Images
Em uma das teorias, os físicos propõem a ideia de que o Big Bang pode ter sido o resultado do colapso de um buraco negro em outro universo; esse processo pode ter causado o início do nosso cosmos e de tudo que está ao nosso redor. Infelizmente, trata-se apenas de uma hipótese que não pode ser comprovada, pois o Big Bang marca o início do tempo e estudar o que ocorreu ‘antes’ está muito além dos limites da ciência.
Neste caso, realmente estaríamos vivendo em um buraco negro, mas talvez não da forma que você imaginava; tudo teria se formado a partir do Big Bang causado pelo objeto massivo presente em outro universo em colapso. A verdade é que se um buraco negro estivesse perto o bastante e sugasse a Terra para dentro do seu horizonte de eventos, nós seríamos aniquilados devido, ao efeito de espaguetização.
O universo é um holograma?
Já a teoria sobre o universo ser um holograma aponta que todas as informações sobre um volume tridimensional do espaço podem ser armazenadas em duas dimensões diferentes.
A ideia é baseada em conceitos da teoria das cordas e da gravidade. Se aplicarmos o buraco negro à ideia, podemos sugerir que a região supermassiva do espaço pode armazenar essas informações. Ou seja, tudo que estaríamos experimentando seria apenas uma projeção em três dimensões do que está acontecendo em outro universo.
A teoria do holograma sugere que a informação ‘engolida’ pode ser preservada na superfície bidimensional de um buraco negro.Fonte: Getty Images
É importante ressaltar que essas teorias são especulativas. Por exemplo, a hipótese sobre o universo ter surgido de um buraco negro necessita que existam múltiplos universos, um conceito que também é apenas teorizado pela física. A teoria do holograma também faz parte de um debate ativo na comunidade científica, mas não existe nenhum experimento científico que comprove a ideia.
“Embora uma propriedade holográfica tão interessante, também chamada dualidade calibre/gravidade, nunca tenha sido provada rigorosamente, impulsionou uma série de programas de investigação em campos tão diversos como a física nuclear, a física da matéria condensada, a relatividade geral e a cosmologia”, descreve o estudo de Luminet.
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