Durante uma exploração submarina, cientistas do Instituto Oceânico Schmidt usaram um veículo pilotado remotamente (ROV, na sigla em inglês) para retirar uma camada de crosta vulcânica do fundo do mar — e encontraram um ecossistema marinho inteiramente novo abaixo dela. No local, foram vistos veios de fluido subsuperficial cheios de formas de vida nunca antes registradas.
Em locais terrestres, a ciência já sabia da existência de criaturas subterrâneas, vivendo em cavidades e na areia e lama do planeta. O que era inédito, até agora, era o encontro dos bichos que viviam abaixo das fissuras hidrotermais. É um ecossistema dentro de um ecossistema, segundo os cientistas, uma evidência de vida em um local incrível. A descoberta é comparável à do ecossistema mais isolado do mundo, na Romênia, em 1986.
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As fissuras ou fontes hidrotermais foram descobertas nos anos 1970, abrigando fluidos quentes e ricos em minerais nas profundezas marinhas. Apesar da escuridão do fundo, essas “chaminés” submarinas abrigam incontáveis formas de vida, podendo até ter feito parte do surgimento das primeiras criaturas do mundo. Nos 46 anos seguintes, no entanto, ninguém havia investigado o subterrâneo desses ecossistemas.
O que há abaixo das fissuras hidrotermais?
Abaixo da crosta vulcânica, foi encontrado um ecossistema de vermes, lesmas marinhas e bactérias quimiossintéticas, ou seja, que se aproveitam de minerais para tirar sua energia ao invés da luz solar. Dois habitats dinâmicos foram identificados nas fissuras — os animais acima e abaixo da camada vivem em uníssono, dependendo do fluido subsuperficial do fundo e do oxigênio da água oceânica acima.
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Entre as descobertas, uma das que mais fascinou os cientistas foi a de poliquetas (vermes) tubulares, criaturas que parecem viajar por baixo do solo marinho através dos fluidos vulcânicos, colonizando novos habitats a quilômetros de distância. Isso pode explicar como tão poucos dos filhotes são vistos juntos ao redor das fissuras — a maioria deve estar amadurecendo abaixo da superfície, segundo os pesquisadores.
Para testar essa hipótese, um ROV chamado SuBastian foi usado para limpar uma área quadrada do solo marinho na Dorsal do Pacífico Leste, próxima à América Central, a cerca de 2,5 km de profundidade. No local, foi grudada uma caixa com paredes de malha, e lá ficou por alguns dias. Quando foi recuperada, ela estava colonizada por diversos animais, vindos, provavelmente, das rachaduras e fissuras do fundo do mar.
As análises de todas essas descobertas serão publicadas nos meses seguintes, mas com o que já sabemos, pode-se concluir que escavações para mineração submarina profunda poderão perturbar profundamente os novos ecossistemas. Segundo os pesquisadores, o achado evidencia o quanto ainda há para descobrir sobre os oceanos, e o quão importante é proteger o que ainda desconhecemos.
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Fonte: Schmidt Ocean Institute