Sindicato Rural afirma que todos estão empenhados a conquistar o título de 1º Estado carbono neutro do país
Você sabe como a carne que você come foi produzida? Esta tem sido uma grande preocupação dos pesquisadores com relação aos impactos na natureza. Como um dos maiores produtores de carne do mundo, o Brasil também está em quinto lugar no ranking de maiores emissores de gás metano que contribui para os gases do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global.
Para mitigar esses efeitos, a tecnologia tem sido aliada fundamental do agro para assegurar sustentabilidade no meio de produção. O resultado ainda garante valor agregado ao produto final, que tem sido requisito cada vez mais cobrado pelo mercado externo.
Mato Grosso do Sul saiu na frente nessa conscientização ambiental, transformando o homem do campo um amigo da natureza. Se antes a imagem do produtor era de quem desmatava para fazer pasto, agora ele passa a ser colaborador do meio ambiente, produzindo também gás carbônico.
O Estado é o primeiro do país a ter a carne carbono neutro reconhecida. Por trás da linha Viva criada pela Marfrig e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) há muito mais do que estudo. Há mudança de valores em um setor com imenso potencial econômico.
O certificado cria uma marca-conceito, que garante que o animal cumpriu parâmetros e cumpriu protocolos que asseguram a mitigação da poluição atmosférica, por meio de sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta). Nada mais é, do que a certeza que todo o gás metano que o animal emitiu foi compensado durante o processo de produção pelo crescimento de árvores no sistema.
Tudo porque um estudo realizado na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, confirma que cerca de 200 árvores por hectare seriam suficientes para neutralizar o metano emitido por 11 bovinos adultos por hectare ao ano, sendo que a taxa de lotação usual no Brasil é de um a 1,2 animais por hectare.
O assunto é novo e Mato Grosso do Sul é considerado pioneiro no tema. Com uma política pública de incentivos, a meta do governo do Estado é garantir que toda a poluição produzida aqui, tanto na cidade, como no campo, seja neutralizada com a emissão de carbono até 2030.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, explica que tudo começa com o conceito de sustentabilidade.
“É o equilíbrio da capacidade de continuar aumentando a produção que o Brasil precisa e ao mesmo tempo com tecnologias adequadas para que possa preservar o meio ambiente. Assim tentamos reduzir esse fator de conflito entre expansão da produção e degradação ambiental”, justificou.
Contendo três biomas (Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal), o Mato Grosso do Sul caminha para evitar a prática de desmatamentos como ocorreu em períodos anteriores. “A expansão está muitas vezes mais vinculadas a intensificação e absorção de práticas de sustentabilidade do que de novos desmatamentos. Combatemos essa ação ilegal e incentivamos boas práticas.”
Outro ponto a se destacar é que o animal com certificado de carne carbono neutro é o mesmo sob ponto de vista de características de um animal de confinamento comum. “O que muda é a forma de como você vai estabelecer essa criação. Com a estruturação de integração lavoura, pecuária, floresta, colocando árvores, tem bem estar animal. Esse conjunto que faz as emissões de metano serem neutralizadas com as arvores plantadas no próprio sistema.”
O assunto está em evidência para os produtores locais, devido a sua importância em todos os sentidos. “O que tentamos desenvolver com os produtores rurais é o primeiro passo às boas práticas agropecuárias. Primeiro passo é a propriedade rural regulamentada nas regras exigidas. E o principal sinal positivo tá vindo do mercado, por conta das necessidades que ele tem cobrado. O comércio externo quer que comprove as atividades sustentáveis, para não ter problemas lá na frente.”
Verruck está otimista com o pacote tecnológico disponibilizado aos produtores. “A política pública induz esse processo do produtor. Ele está mais convencido do que dez anos atrás. O problema é que ele não tem o conhecimento para fazer. Por isso os programas de rastreabilidade para mecanismos de comprovação estão sendo difundidos para que a somatória de atividades garantam o certificado. A grande discussão é como ainda dar escala nisso e na COP27 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2027) vamos tratar principalmente desse financiamento da preservação.”
O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho, acredita que o Estado poderá inclusive provar que já produzia carne ambientalmente correta. “Não é difícil. A principal limitação para definir Mato Grosso do Sul como carbono neutro são as métricas. Ainda não temos no estado uma forma de medir as emissões e as compensações de forma fiel. Essa será a principal missão do governo até 2030: desenvolver mecanismos capazes de medir as diferentes atividades agropecuárias e suas emissões, para então, comprovar cientificamente que já éramos carbono zero, mesmo antes de 2030. Acredito nisso”, aposta Coelho.
Segundo ele, a tecnologia criada pelos pesquisadores tem sido a principal aliada dos produtores neste momento. “Graças a entidades de pesquisas, como Embrapa e Fundações MS e Chapadão, além das universidades, temos muita ciência na pecuária e na agricultura do Estado, e isso estimula maior produtividade em um mesmo espaço. Isso quer dizer que produzimos mais, sem prejuízos ao meio ambiente. E a tecnologia também tem nos ajudado nesse sentido.”
Ter o apoio do poder público com incentivos para cumprir a meta estado carbono neutro até 2030 também garante que o produtor sul-mato-grossense tenha valor agregado no seu produto em comparação com as outras federações aos olhos do mundo.
“O Governo do Estado de MS foi crucial em lançar essa meta durante a COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2026), uma vez que além de atrair os olhos para o Mato Grosso do Sul, isso já gerou consequências no campo e também na academia, uma vez que todos passam a ficar ainda mais empenhados em conquistar o título e ser o primeiro estado a comprovar esse êxito. A meta já fez com que o Estado investisse milhões em pesquisa, então a academia está debruçada na pauta carbono e isso poderá levar inclusive valorização à produção, uma vez que comprovado nível sustentável da pecuária e agricultura, poderemos entrar mais fortemente em projeto ligados ao PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), em que produtores recebem recursos, simplesmente por preservar, o que ele já faz de forma natural”, assegurou o presidente.