Investindo em mais uma comédia romântica para seus assinantes, a Netflix acaba de adicionar ao seu catálogo A Descoberta Perfeita, filme dirigido por Numa Perrier (Jezebel) e baseado no livro homônimo de Tia Williams. O longa acerta ao trazer para a tela um elenco majoritariamente negro, mostrando que o romance e os “contos de fadas” também podem (e devem) ser vividos por pessoas negras.
Apesar disso, no entanto, o que vemos em cena é um enredo morno, fraco e até meio banal. Isso porque o filme não entrega quase nada de comédia e também não se aprofunda muito na história de amor do casal principal.
Veja bem, para começar conhecemos Jenna (Gabrielle Union), a nossa mocinha, uma mulher bonita e dona de si que está enfrentando um período conturbado, pois acabou de terminar um relacionamento de dez anos.
Abalada e sem muitas perspectivas, ela procura trabalho na empresa da sua semi-rival, Darcy, vivida brilhantemente por Gina Torres. Mas, entre sair da casa da mãe e começar a trabalhar, ela conhece Eric (Keith Powers), um jovem de 22 anos que se formou em cinema e que parece ser a chance de um recomeço.
Como já era de se esperar, o brilhante cinegrafista é ninguém menos que o filho da própria Darcy. E é com essa informação em mente que Jenna se vê em uma encruzilhada, tendo que decidir se vive esse amor com Eric ou se privilegia sua carreira.
Muito sexo, pouco amor
Sem desmerecer a importância do sexo em uma relação, a crítica aqui é para como ele é mostrado, parecendo ser a base do relacionamento. Isso porque Eric e Jenna quase não têm trocas fora da cama, o que fez com que o romance se tornasse vazio de significado.
Por que eles se amam? O que eles têm em comum? O que faz eles quererem ficarem juntos? Essas e outras questões não são respondidas pelo roteiro e fica difícil torcer para o final feliz do casal, justamente porque é complicado comprar essa história de amor dos dois.
Outro ponto importante é a diferença de idade. Ela com, aproximadamente, 40 anos e ele com cerca de 22 se veem em um dilema por essa questão. No entanto, alguns diálogos do filme soam etaristas demais, como se ter 40 anos fosse praticamente um crime.
Claro que é bom ver Jenna se relacionando com um homem mais novo, afinal, é sabido que quanto mais o tempo passa para as mulheres, mais elas são descartadas. Porém, em alguns momentos, parece que o roteiro não soube conduzir essa questão e quase derrapou.
Além disso, fazem falta mais cenas de Jenna e Darcy, uma vez que as atrizes demonstram boa conexão em cena e o embate entre as duas enriquece a trama. Vale dizer, que o melhor momento do filme é justamente quando Darcy conta para Jenna como criou Eric sozinha.
O cinema como ponto em comum
Como o casal principal não tem quase nada em comum, foi preciso criar algo que unisse os dois — além da paixão e do desejo, é claro. Esse algo é justamente o gosto por filmes antigos, interpretados por atores e atrizes negros. Tal argumento se mostra um belo acerto de A Descoberta Perfeita, justamente por mostrar como a representatividade é importante.
Também não há críticas para o elenco. Union, que vive a protagonista, já tem experiência nas telonas e acumula em seu currículo títulos como 10 Coisas que Eu Odeio em Você, Bad Boys II e Pense como Eles. Já Powers, que atuou em Famous in Love e A Guerra do Amanhã, também não fez feio. Outros destaques são D. B. Woodside como Brian e La La Anthony como Elodie.
A Descoberta Perfeita é morno, mas cumpre sua função
Por fim, o que se pode dizer sobre a nova comédia romântica da gigante do streaming é que ela é bem morna e que tinha potencial para ser melhor, ainda mais contando com um elenco de peso. A rivalidade de Darcy e Jenna é o ponto alto, mas a falta de profundidade no relacionamento dos protagonistas é uma falha grave em um gênero em que essa dinâmica é fundamental. Ainda que o uso da representatividade como elo de ligação entre eles seja interessante, está longe de segurar a barra. Para quem procura uma bela história de amor para aquecer o coração, pode acabar se decepcionando nesse ponto.