ALEMS sedia encontro para debater a morte com menos dor e mais dignidade


Profissionais e gestores em Saúde lotaram o plenário da Casa de Leis

“Para ir ao Campo Santo, não me faça sofrer tanto. Morte, me mate sem dor”. Esse apelo são os versos finais de um poema de Patativa do Assaré, usado pelo enfermeiro e professor universitário Alexandre Ernesto Silva para iniciar a reflexão sobre cuidados paliativos. Com mestrado e doutorado sobre o tema, o especialista palestrou, na tarde desta quinta-feira (5), no primeiro dia do “Simpósio Cuidados Paliativos de Mato Grosso Do Sul”. Por solicitação oficial da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Fundação Miguel Couto ao deputado Paulo Corrêa (PSDB), 1º secretário da Assembleia Legislativa, o evento foi realizado na Casa de Leis e lotou o plenário.

Profissionais, estudantes e gestores em Saúde, além de interessados no assunto, tiveram oportunidade de aprofundar em questões relativas ao cuidado paliativo, de repensar o trabalho na área, as políticas públicas e a forma como, comumente, as pessoas entendem e encaram a morte. “O contrário da morte não é vida. É nascimento. Vida é o que tem meio. Nascer e morrer são acontecimentos naturais”, afirmou o professor Alexandre Silva, enfatizando a necessidade de qualidade de vida também como forma de preparação para a morte.


Doutor em Cuidados Paliativos, Alexandre Silva palestrou sobre o tema

Em sua palestra, intitulada “Cuidados Paliativos: Uma mudança de perspectiva na gestão do cuidado”, o doutor Alexandre Ernesto Silva, apresentou informações e reflexões diversas sobre o tema. “Cuidados paliativos – conceituou o professor – é o conjunto de medidas capazes de prover melhor qualidade de vida à pessoa com doença que ameaça a continuidade da vida, por meio do alívio da dor e dos sintomas estressantes, utilizando uma abordagem que inclui o suporte emocional, social e espiritual”. Esse suporte, segundo o especialista, não é proporcionado apenas ao doente, mas também a seus familiares.

Para facilitar a compreensão do tema, o doutor Alexandre Silva discorreu sobre os medos sentidos por pacientes com doenças graves. “O grande medo das pessoas que têm doença grave não é o de morrer, mas do como morrer. O medo não é da morte em si, apenas. Há o medo da falta de ar, o medo da dor, o medo causado pelo pensamento sobre como ficarão os filhos depois que ela morrer”, disse o professor.

Isso tudo ocorre no âmbito do que o especialista chamou de “dor total”, que são as dores física, espiritual, emocional e social. “A dor total é um sofrimento para o qual não se deve aumentar apenas o remédio, mas também o acolhimento”, considerou. Nesse conjunto, há dores provocadas pelos insucessos terapêuticos, ansiedade, ausências, perda de funcionalidade, medo da morte, dor de raiva (“por que comigo?”), dor pelos problemas socioeconômicos e por motivos associados à espiritualidade.

Necessidade de políticas públicas


João Ricardo Tognini conduziu os trabalhos

O Brasil ainda está distante dessa forma de compreender o cuidado de pessoas com doenças progressivas e sem a possibilidade de cura. “Não temos, no Brasil, uma política de cuidados paliativos. Estamos muito atrasados”, avaliou o professor. Ele mencionou estudo divulgado no ano passado  e realizado por pesquisadores norte-americanos, que mostrou que o Brasil é o terceiro pior para morrer em uma relação de 81 países pesquisados.

Implementar políticas públicas referentes a cuidados paliativos é, de acordo com o professor, o último momento de um processo feito de quatro etapas: sensibilizar, informar, formar e implementar. “Primeiro, é preciso sensibilizar as pessoas quanto ao cuidado paliativo. Segundo, é necessário informar sobre o tema. Isso é o que estamos fazendo aqui hoje. Mas também, devemos formar profissionais, que serão multiplicadores e facilitadores. Aí sim poderemos iniciar a implementação de políticas de cuidado paliativo”, enumerou o doutor Alexandre, já durante a mesa redonda, realizada após sua palestra.

Com as questões “Qual o impacto da abordagem de cuidados paliativos nas instituições de saúde? Quais os principais desafios enfrentados pelas instituições de saúde do MS na abordagem de Cuidados Paliativos?”, a mesa redonda provocou discussões diversas e manifestações de preocupações dos presentes. 


Representantes do Governo e outras autoridades compuseram a mesa

Os trabalhos foram coordenados pelo médico João Ricardo Filgueiras Tognini, assessor técnico médico da SES e diretor-presidente da Fundação Miguel Couto de Ensino, Pesquisa e Extensão. Também participaram do encontro a secretária-adjunta da SES, Crhistinne Cavalheiro Maymone Gonçalves, o secretário municipal de Saúde de Maracaju e vice-presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de MS (Cosems), Thiago Olegário Caminha, a coordenadora do Serviço de Residência Médica em Medicina de Emergência do Hospital Regional, Marcela Ramone do Nascimento, e a especialista em Cuidados Paliativos no Hospital Sírio-Libanês e coordenadora do Serviço de Cuidados Paliativos da Unimed Campo Grande, Camila da Costa Natera Torres.

Programação

O simpósio terá continuidade na manhã desta sexta-feira (6). Com início às 8h no plenário da Assembleia Legislativa, o encontro terá a palestra “A comunicação na promoção da dignidade em cuidados paliativos: desafios para a equipe multidisciplinar”, a ser proferida pela psicóloga Maria Júlia Kovacs. O encerramento está previsto para 11h. Veja aqui a programação completa e outras informações sobre o simpósio. 

O evento da tarde desta quinta-feira foi transmitido ao vivo pelos canais oficiais de comunicação da Assembleia Legislativa. Confira o encontro na íntegra e, abaixo, leia o poema de Patativa do Assaré, recitado pelo doutor Alexandre Ernesto Silva:

“Morte, você é valente

O seu rancor é profundo

Quando eu cheguei neste mundo

Você já matava gente

Eu guardei na minha mente

Sua força e seu rigor

Porém me faça um favor

Para ir ao Campo Santo

Não me deixe sofrer tanto

Morte me leve sem dor.”

(Patativa do Assaré)

Fonte: Site Oficial da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul

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