Um estudo realizado por Paulo Savaget, professor associado de engenharia e Saïd Business School da Universidade de Oxford, revela que existem muitos pontos com os quais os gestores podem aprender com os hackers. A frase “um gerente eficiente deve pensar como um hacker” pode causar muita confusão e até mesmo soar contrária às tendências mais atuais sobre inteligência emocional e habilidades sociais nos ambientes de trabalho.
Em uma entrevista para a Forbes, Savaget, explica que o conhecimento e a engenhosidade que os hackers trazem para o pensamento sistêmico não precisam ser maliciosos ou ilegais. O professor acredita que a mentalidade de soluções alternativas podem ser inestimáveis na gestão e, para exemplificar a proposta, usa o mito do Cavalo de Troia — em que os gregos não precisavam quebrar o portão ou as paredes de Tróia para entrar.
“Os gerentes geralmente acreditam que podem resolver todos os problemas com design racional, avaliação abrangente e implementação lógica, mas esse excesso de planejamento explica por que os projetos muitas vezes prometem demais, gastam demais ou se arrastam interminavelmente”, argumenta. Ele afirma que uma mente hacker pode ser fundamental em situações com riscos altos, recursos escassos, em que não há tempo para processos tão burocráticos.
Através da sua pesquisa, o Paulo identificou cinco maneiras principais pelas quais uma abordagem hacker poderia melhorar a eficiência na gestão de uma empresa, confira:
5 práticas hacker que podem beneficiar o seu negócio
1. Contornar obstáculos
Segundo o especialista, é da “natureza humana” enfrentar obstáculos de frente. No entanto, ele acredita que ao considerarmos que todo problema complexo requer uma solução complexa, o resultado pode ser bater a cabeça contra a parede ou o sentimento de paralisia frente uma situação difícil.
“Através de soluções alternativas, os hackers on-line e off-line obtêm vitórias rápidas, e estas às vezes abrem caminho para grandes mudanças que eles não poderiam ter antecipado”, afirma Paulo.
2. Encontre oportunidades no inexplorado
O professor afirma que é comum um gerente traçar linhas para manter a ordem, gerenciar expectativas e passar por suas listas de verificação. No entanto, quando essas linhas não são tão óbvias, podem ficar presos com diferentes maneiras de interpretar situações.
Nestes casos, ele acredita que a abordagem de um hacker pode ajudar a mapear territórios inexplorados e encontrar pares não convencionais de diferentes áreas. “Essa mentalidade criativa, flexível e amante da imperfeição os capacita a navegar em situações ambivalentes e é propícia para identificar maneiras não convencionais, rápidas e engenhosas de causar impactos descomunais”, explica.
3. Cultive uma cultura de pragmatismo
Paulo acredita que o excesso de planejamento dos gerentes é o que causa o fracasso de alguns projetos. “Hacking pode ajudá-los a criar uma cultura de pragmatismo, valorizando abordagens experimentais e incompletas com os recursos que eles têm em mãos”, afirma.
4. Mobilize a equipe em torno de um processo em vez de metas ou resultados
Segundo Savaget, estudiosos de administração têm destacado a importância de mobilizar funcionários em torno de propósitos além da obtenção de lucro, como responsabilidade social ou senso de pertencimento.
“Uma abordagem hacker pode expandir isso. A maioria dos hackers são grupos auto-organizados e diversificados de indivíduos que estão muito mais interessados em embarcar em processos empolgantes do que em um objetivo final predeterminado ou na propriedade de um resultado – e abraçar o processo pode motivar sua equipe”, afirma.
5. Mantenha-o simples e complexo
O professor explica que os hackers sabem eliminar a “complexidade acidental” e se concentrar nas propriedades-chave do problema que estão tentando resolver. Dessa maneira, eles mantêm as coisas o mais simples possível para evitar que algo dê errado.
Ele afirma que nem todo problema complexo deve ser enfrentado de frente, mas exige uma análise da sua complexidade essencial. “Alguns dos desafios mais difíceis do mundo são complexos porque estão em constante evolução e entrelaçados, e os possíveis solucionadores que tentam abordar todas as facetas estão fadados a ficar aquém”, ressalta.
As quatro soluções alternativas
Segundo o professor, as soluções alternativas são métodos eficazes, versáteis e acessíveis para resolver problemas complexos. O método ignora e, até mesmo, desafia as convenções sobre como um problema deve ser resolvido. Portanto, Savaget listou quatro principais para auxiliar os gerentes, são elas:
- Piggyback: capitaliza em sistemas ou relacionamentos pré-existentes, mas aparentemente não relacionados; eles dependem da procura de pares que podem ter sido inexplorados.
- Brecha (loophole): faz com que as regras funcionem a seu favor; embora tenha uma conotação negativa, pode ser usado de maneiras positivas, identificando tecnicalidades e ambiguidades no que as regras dizem e o que não dizem.
- Rotatória (roundabout): interrompe comportamentos auto-reforçados com o objetivo de ganhar tempo ou transformar um comportamento indesejável em desejável.
- Next-best: reaproveita ou recombina recursos prontamente disponíveis para encontrar maneiras diferentes de fazer as coisas.
Paulo acredita estimular uma cultura de dinamismo e pragmatismo, valorizando abordagens experimentais e incompletas, pode tornar uma organização “hackier”.
“Isso envolve planejar menos, estimular uma cultura de amor à imperfeição, dar aos funcionários flexibilidade (em que é melhor pedir perdão do que permissão), girar e empilhar vitórias rápidas para aproveitar ao máximo as oportunidades imprevistas e estar pronto para escalar quando as oportunidades surgirem”, conclui.
Fonte: Forbes